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sábado, 10 de agosto de 2019

MICHAEL JACKSON
- O HOMEM POR TRÁS DA MÁSCARA - (Parte 3)





MICHAEL JACKSON: O Homem por trás da Máscara

PARTE III

Um Homem de Família:
Michael sempre disse e demonstrou ser um “homem à antiga”. Diferente da esmagadora maioria dos atuais humanoides, ele sempre prezou a família, embora tenha passado por dois divórcios. Compreensível, dado ao modo de vida a que foi condicionado pela fama precoce, dado ao isolamento social a que foi submetido por causa da fama, dado ao seu entendimento da vida bem diverso do “amor líquido” dos nossos tempos.

Até quase a idade adulta, os irmãos foram seus únicos amigos. Vivendo praticamente dentro de um avião, não havia como sedimentar afetos. Eram simples viajantes, transeuntes sem raízes, nômades. Restava serem amigos uns dos outros. O único lado positivo desse estado de coisas foi a união que se sedimentou entre eles. Aliás, união que nasceu desde as surras de Joe Jackson: eram solidários na dor e no amor.

Em sua autobiografia “Moonwalk”, Michael relembra emocionado do lado bom da sua infância e adolescência. A infância do menino romântico que pegava escondido as joias da mãe para dar de presente às professoras, que, nas palavras dele, eram gentis e o adoravam.

Os Irmãos:

E o próprio Michael é quem disse: “Jermaine era meu irmão mais chegado. Foi ele quem me levou para o jardim da infância e eram as roupas dele que ficavam para mim. Quando ele fazia alguma coisa, eu tentava imitá-lo.
 
A época dos Jackson Five foi um período de extrema proximidade com meus irmãos. Sempre fomos um grupo bastante amoroso e leal. A gente zoava juntos, descansava juntos, pregava peças absurdas em nós mesmos e em pessoas que trabalhavam conosco. Não havia televisões voando pela janela do hotel, mas muita água era jogada nas cabeças lá embaixo. Era o jeito de vencer o tédio na estrada. [...] Lá estamos nós, confinados naqueles quartos de hotel, não podendo ir a lugar algum por causa da multidão de garotas gritando na porta, e queríamos nos divertir. [...] Esperávamos nosso chefe de segurança, Bill Bray, dormir e apostávamos corrida nos corredores, guerra de travesseiros, disputas de luta-livre, guerra de creme de barbear. A gente jogava bexigas e sacolas cheias de água da varanda do hotel para vê-las explodirem. E a gente morria de rir. Ficávamos horas passando trote no telefone, fazendo imensos pedidos de refeição que eram entregues em outros quartos. Todo mundo que entrasse em um de nossos quartos tinha noventa por cento de chance de ser encharcado por um balde d’água, equilibrado em cima da porta.

Éramos como os sete anões: cada um diferente do outro, com sua própria personalidade.

Jackie era o atleta e o que mais se preocupava. Tito era o forte, representava uma figura de pai, cheio de compaixão. Jermaine era divertido e calmo, e sempre estava brincando por aí. Foi o Jermaine quem colocou aquele monte de baldes d’água em cima das portas dos hotéis. Marlon era uma das pessoas mais determinadas que já conheci. Ele também era um verdadeiro piadista, cheio de pregar peças e o que mais se metia em encrenca com meu pai porque, nos velhos tempos, sempre errava um passo ou uma nota.

Todos ajudavam todos, fazíamos tudo juntos. Assim que alguém dissesse “eu vou nadar”, todos gritavam “eu também”. Jackie e Tito eram os que nos impediam de abusar nas traquinagens, mas aí Jermaine e Marlon gritavam: “vamos nessa”!

Durante as viagens, eu sempre dividi o quarto com o Jermaine. Éramos muito próximos no palco e fora dele. Ele era o irmão mais interessado nas garotas que gamavam nele e ele e eu começamos a aprontar na estrada.

La Toya é ótima e ela sempre está por perto, e é muito engraçada também. Se você entrasse no quarto dela, você não poderia se sentar na cama, nem no sofá, nem pisar no tapete. Ela iria te expulsar de lá. Se você tossisse na mesa, ela cobria o prato. Se você espirrava, já era.

Janet sempre foi sapeca. Ela foi minha melhor amiga por muito tempo e fazíamos tudo juntos. Tínhamos os mesmos interesses, o mesmo senso de humor e gostávamos das mesmas coisas. Às vezes, a gente até lia o pensamento um do outro. Quando éramos mais jovens, levantávamos em manhãs livres e escrevíamos uma tabela pro dia: acordar, alimentar os animais, tomar café da manhã, assistir desenhos, ir ao cinema, ir ao restaurante, ir de novo ao cinema, ir pra casa e nadar. Essa era nossa ideia de um ótimo dia. (JACKSON-1988)

As Mulheres:

Michael sempre falou muito pouco dos seus relacionamentos. Discreto e reservado por natureza, foi muito pouco o que deixou saber sobre sua vida afetiva. Em uma entrevista à apresentadora Ophra Winffrey, em 1992, ele simplesmente diz, ao ser perguntado sobre as mulheres com quem se relacionou: “eu sou um cavalheiro”, negando-se a expor ao público a intimidade de outras pessoas.

Usando suas próprias palavras, a vida sexual e afetiva de Michael não é anormal: “eu sou apenas diferente nisso”. Tímido assumido, Jackson não conseguia chamar uma garota para sair, mesmo quando se interessava muito por alguma. Esperava ser convidado. Ao contrário do que aparenta, reconhece-se nada romântico. Galanteios, jogos de sedução, nada disso faz parte do seu repertório com as mulheres. “Eu sou tímido. Eu não sei o quanto sou bom nisso, pois sou tímido. Eu sou diferente nesse caminho”.

O assédio despudorado das garotas incomodava o jovem Michael, tanto quanto o incomodaram na vida adulta: “Elas sempre estão lá, desde que me conheço por gente”. A lendária “Billie Jean” foi baseada em um incidente no qual uma jovem teria pulado o muro que cercava a casa de Encino, e ficado escondida na piscina dele. Mais tarde, ela o processou, alegando que Michael era o pai dos dois gêmeos dela. Quincy Jones contou que, à época das gravações de Thriller, os dois estavam no Westtlake Studio e “uma garota californiana muito saudável passou pela janela do estúdio e puxou o vestido dela até a cabeça. Ela não estava vestindo nada por baixo. Rod, Bruce e eu ficamos de olhos arregalados. [...] Viramos e vimos Michael, uma Testemunha de Jeová dedicada, se escondendo atrás do console.” (JONES – 2002)

Memórias de Michael registram garotas que o deixavam maluco, indo até o portão de sua casa, se apresentando como “mulher de Michael”, ou “estou só deixando a chave do nosso apartamento”, ou afirmando que havia dormido com ele e fazendo ameaças. A loucura era tanta que algumas ficavam nos portões de Hayvenhurst gritando no interfone que Jesus as havia enviado para falar com ele.

Exposto a esse tipo de situação onde quer que fosse, Michael se via às voltas com esse gênero de garotas quando adolescente e jovem; quando homem feito com mulheres que, ao não conseguirem levá-lo para a cama, chamaram-no homossexual, assexuado, infantil... Michael é apenas um sábio, mas elas não alcançaram esse entendimento e denegriram a sua imagem.

Os amores platônicos:

A vida afetiva de Michael é marcada por amores platônicos endereçados a mulheres muito mais velhas do que ele. Michael e os quatro irmãos cresceram longe do aconchego familiar, pois estavam sempre na estrada. Consequentemente, marcada também pela falta da mãe, que ficava em casa cuidando do lar e dos outros filhos. Carência materna? Alma milenar, que fazia dele um senhor no corpo de criança? // Talvez a busca pela figura materna que o protegesse da violência do mundo e não apenas que o confortasse sem impedir a violência. Kathe é um exemplo de mãe consoladora, mas não a protetora e Michael ficava à mercê dos distúrbios emocionais e irracionais de Joe Jackson.

O amor mais platônico, mais profundo e duradouro foi pela cantora Diana Ross, a quem conheceu quando tinha apenas 9 anos e com quem morou por um bom tempo. Diana era a musa, a deusa, o espelho, o sonho inatingível... A estrela, pacientemente, ensinava o pequeno Michael a gostar e entender de obras de arte, e isso o encantava. É um amor espiritual que varou as décadas e nunca acabou. Talvez porque nunca tenha se materializado, virou magia, e magia tem a marca de Michael.

“Quando eu fiquei sabendo que Diana estava se casando, fiquei feliz porque ela estava feliz, mas era difícil para mim, pois tinha que andar por aí fingindo estar animado com o casamento dela com um homem que nunca vi. Eu queria vê-la feliz, mas admito que fiquei um pouco magoado e com ciúmes porque eu amo a Diana e sempre amarei”contou ele. (JACKSON-1988)

Liz Taylor é um amor nascido da identidade de sofrimento. Ambos tiveram a infância roubada, os pais duros e brutais, ambos sofreram as infâmias da mídia, ambos sofreram o julgamento público por sua “infantilidade” fora de época. São muito parecidos na pureza de alma, no jeito de ver a vida, até na solidariedade humana. Ficavam alegres e felizes juntos, brincavam, saíam de mãos dadas, iam ao cinema e comiam pipocas. Liz foi quem patrocinou e organizou a primeira festa de Natal de Michael, em 1993. Foi ela quem lhe deu de presente nada mais nada menos do que um elefante, carinhosamente chamado “Gipsy” e que passeava livre e faceiro por Neverland.

Na mesma entrevista a Oprah Winffrey, em 1992, Michael revelou que nunca propôs um romance à Liz porque a imprensa iria transformar tudo em um circo, acabar com a poesia de tudo. Iriam dizer “que casal mais estranho!” e iriam dar todas as razões para estarem juntos, menos por amor. Preferiu preservar a magia de mais um amor espiritual ao nível de uma amizade especial e inquebrável. “Elizabeth Taylor é deslumbrante, linda, e ela me acalma.” – revelou Michael. “É como telepatia. Você consegue sentir a fala do outro e olhar nos olhos e eu a sinto, e ela me sente. [...] É como se comunicar silenciosamente”.

Acostumado ao aquário da fama, Michael convidava Liz a ir com ele para o estúdio da Warner Bross assistir filmes. Disposta a arrancá-lo da clausura ela rebatia: “Não, vou te levar para a rua”, e iam toda 5ª feira em um cinema, em que uma das sessões começava à uma hora da tarde. Como o resto do mundo estava trabalhando nesse horário, os dois pegavam o cinema praticamente vazio. Michael sorri ao lembrar-se do espanto dos funcionários: “Uau, oh meu Deus! Elizabeth Taylor e Michael Jackson! Venham!” E eles ganhavam os ingressos e a pipoca.

O que mais encantava Michael em Liz era sua alma criança. Quando ela dizia “eu não quero fazer isso”, não havia nada o que fazer. Ele se recorda de quando foi lançado o desenho “Vida de Inseto” e ela o perseguiu até ajustar sua agenda de compromisso e o carregou para o cinema.

Nas palavras de Michael, Liz adorava Neverland, onde andava de carrossel e na roda gigante, brincava com qualquer jogo, adorava nadar e assistir desenhos e era muito boa com as crianças.

Ele conta: “É brincalhona, jovial, feliz e acha uma forma de rir mesmo quando está sofrendo. [...] Ela esteve comigo na maior parte da turnê Dangerous e nos divertimos muito. Ela é madrinha de Prince e Paris, e Macaulay é o padrinho. [...] Ela reteve aquelas qualidades da menininha, ela tem esse brilho como uma criança... é tão doce! [...] Gostamos das mesmas coisas: circos, parques de diversões, animais. [...] Nós somos como irmão e irmã, mãe e filho, amantes... é algo especial. [...] Ela diz que me adora e que faria qualquer coisa por mim. [...] Ela é um cobertor quente de pelúcia, em que eu amo me aconchegar e até me cobrir. Eu posso confiar e confiar nela. Elizabeth é alguém que me ama, realmente me ama. (MICHAEL JACKSON)

Amor incondicional e puro, amor solidário. Quando Michael sofreu a primeira acusação de pedofilia, estava em meio à turnê Dangerous. Quando magoado com alguma coisa ou sob forte pressão, ele parava de comer por dias, semanas, às vezes até o ponto de desmaiar. Pacientemente, Liz pegava a colher, abria a boca do amado e o fazia comer, dizendo que não o deixaria partir sem ela. Michael conclui: “Ela foi uma das pessoas mais gentis que conheci neste Planeta. Ela e eu tomamos conta de Ryan White e pagamos as despesas médicas dele”.

Os amores reais:

Michael admitiu que a primeira que considerou uma namorada foi Tatum O’Neal, atriz e filha do ator Ryan O’Neal. Ele tinha 16 anos e ela 13. Ele conta: “Ryan e eu fomos a um clube e estávamos assistindo uma banda. Por debaixo da mesa ela estava segurando minha mão e eu estava derretendo. Foi mágico. Havia fogos de artifício explodindo. Era tudo que eu precisava. Mas isso não significa nada para os jovens de hoje”.

Essa alma milenar encantava-se com a linguagem dos pequenos gestos, com a magia dos olhares, com o encanto dos sorrisos furtivos... coisas que não têm mais significado algum nos relacionamentos de hoje. Tudo muito líquido e fugaz, fugidio. A alma de Michael estava acostumada à robustez dos sentimentos sólidos e duradouros. Nunca encontrou respostas aos seus apelos.

Apesar de Michael não ter mencionado – como não mencionou outras mulheres que passaram por sua vida - Stephanie Mills, atriz, namorou Michael de 1975 a 1979. Conheceram-se nas filmagens de The Wiz, quando ela havia sido escolhida para fazer o papel de Dorothy, mas foi substituída por Diana Ross, porque era mais conhecida. Em entrevista a uma emissora de rádio americana, Stephanie fala de Jackson com muita admiração: “Michael é muito homem e é muito amoroso, cuidadoso e tudo mais, mas nós nunca fizemos sexo. Isso é algo que eu nunca tinha falado. Ele era realmente um tipo diferente de garoto sabe? Michael tem beijos ótimos. Ele é um ‘beijador’”.

Os olhos brilhavam e a emoção tomava conta da voz, quando Michael falava de Brooke Shields. Outra namorada e entusiasticamente eleita como “um dos amores da minha vida”, talvez um dos únicos materializados. Michael e Brooke eram vistos frequentemente em público, mãos dadas e uma alegria contagiante no semblante dos dois. Parecia divertirem-se enormemente na companhia do outro. Jackson revelou que mantinha fotos de Brooke pelas paredes e espelhos de sua casa.

Ele revela o primeiro encontro: “Eu estava no Academy Awards com Diana Ross e ela se aproximou de mim, dizendo: “eu sou Brooke Shields. Você vai à festa depois?” Eu respondi “sim”. Eu tinha uns 23 anos. [...] Então, fomos para a festa e ela perguntou: “dança comigo?” Fomos para a pista de dança. E, cara, eu fiquei pulando pelo quarto a noite toda de tanta felicidade. [...] Tivemos um encontro onde ela ficou realmente afim e eu me acovardei. Eu não devia. E eu sinceramente gostava dela também, gostava muito”. (BOTEACH-2009)

Como água e azeite, uma mistura que não se processa nunca, Michael e Madonna andaram tentando um relacionamento. Mas, obviamente, enquanto Madonna era 100% sexual, Michael era 100% espiritual e os dois mais se estranhavam do que se curtiam. Quando saíam, a briga era porque Madona queria ir para um clube de strippers e Michael queria ir para a Disneylândia. Era uma guerra de valores e visões antagônicas que jamais teria consenso. Michael revelou uma cena patética, quando estavam jantando em um restaurante e algumas crianças se aproximaram pedindo autógrafos. Madonna enfureceu-se e disse “saiam daqui, deixem-nos em paz!” Foi a vez de Michael virar uma fera: “Nunca fale assim com uma criança!” “Cale a boca” – retrucou a popstar. “Não, cale a boca você”. Embora nada tivessem em comum, eles chegaram a se interessar um pelo outro, mas foi impossível engatar um romance. “Ela gostava de valores chocantes e fazia coisas muito loucas. Foi assim que tudo terminou”. Na época, Madonna foi para a imprensa falar mal de Michael.

Anos depois, após alguns poucos meses de namoro, Michael e Lisa Marie Presley casaram-se em segredo. Esse evento intempestivo tem uma explicação: Michael decidiu que estava na hora de ser pai. A herdeira de Elvis Presley, Michael conheceu quando a pequena tinha apenas 7 anos. Bonita, gentil e doce, Lisa, que já era mãe em seu primeiro casamento, seria a mulher ideal para gerar os filhos do Rei. Mas as coisas não saíram como Michael havia imaginado e seu sonho de ser pai foi ficando distante, muito distante e, assim, as diferenças entre o casal foram ficando gritantes e insustentáveis; as decepções e mágoas, consequentemente, tomaram proporções.

A doce Neverland de Michael não tinha o mesmo significado para Lisa. Michael relata: “Ela nunca morou em Neverland. Morávamos na casa dela, na cidade e, de vez em quando, visitávamos Neverland. Era como um grande final de semana divertido. [...] Neverland é um lugar feito para a família, para reunir pessoas através do amor, de um espírito de brincadeira e da natureza. É curativa”! Mas os problemas não se restringiam à Neverland. Lisa tinha ciúmes das crianças que conviviam com Michael, não entendia seu amor pelos pequenos desvalidos, não estava à altura de compreender que, para um missionário, a missão está acima de tudo. Começaram as cobranças, as discussões, os desentendimentos, as exigências. “Eu me lembro que Lisa Marie me dizia: ‘eu não sou uma mobília...’ Eu respondia: ‘eu não quero que você seja mobília’. Havia uma garotinha doente ao telefone e ela ficou zangada, bateu o telefone na cara dela. E, sabe, eu sinto que essa é minha missão, Shmuley. Eu tenho que fazer”. (BOTEACH-2009)

Porém, Michael reconhece que Lisa era ótima em visitar hospitais e orfanatos com ele. Era doce com as crianças e tinha compaixão. Mas, por outro lado, era muito territorial. Para ela, os seus filhos eram o mais importante e para Michael todas as crianças do mundo têm a mesma importância. Foram muitas e acaloradas discussões a respeito entre o casal. Ele teimava: “Não, todas as crianças são nossos filhos”. E Michael revela que Lisa nunca gostou desse lado dele. Uma das brigas mais memoráveis e que veio a público na época foi quando dois garotos mataram um outro garoto em Londres e Michael queria ir visitá-los na prisão, pois haviam obtido pena perpétua e eles tinham apenas entre 10 e 11 anos. “Seu idiota!” - esbravejou Lisa Marie para Michael – “Está recompensando-os pelo que fizeram?”. “Como ousa dizer isso?” – contestou Michael – “Eu aposto que se você traçar a vida deles vai ver que não tiveram os pais por perto, que não tiveram amor algum, ninguém para abraçá-los, para olhar nos olhos deles e dizer ‘eu te amo’. Eles merecem isso, mesmo pegando pena perpétua. Eu apenas quero dizer ‘eu te amo’ e abraçá-los”. Dias mais tarde, confirmou-se a informação de que essas crianças vieram de famílias desfeitas e que nunca foram cuidadas. Ao contrário, “o que as acalmava eram filmes do Chucky, com todas aquelas facadas e matanças. E foi assim que eles ficaram condicionados”. Michael queixou-se que, mesmo depois de saber desses fatos, Lisa continuou achando que ele estava recompensando crianças ruins.

Com tantos desencontros de visão e entendimento, a química sexual não seria suficiente para segurar um casamento por muito tempo. Talvez Lisa tenha se acovardado e começou a negar-se a engravidar de Jackson, com medo de uma batalha judicial pela guarda dos filhos, já prevendo uma separação. Michael jamais aceitaria viver longe dos filhos que tanto queria e muito menos que os mesmos fossem educados por alguém que não fosse ele próprio. Foi a gota d’água. “Eu queria filhos e ela não” – resume Michael – “E ela me prometeu antes de nos casarmos que a primeira coisa que faríamos seria ter filhos. [...] Desapontou-me que ela não tenha cumprido a promessa que fizera para mim”.

Lisa pediu o divórcio e, nesse momento, entra Deborah Jean Rowe (Debbie Rowe) na história afetiva de Michael. Amiga e confidente desde 1980. Ele estava arrasado com a negativa de Lisa Marie e Debbie simplesmente lhe diz: “Você precisa ser pai, então seja!”. Amando Michael há anos, Debbie deu provas desse sentimento e engravidou do primeiro filho do casal, Michael Joseph Jackson Jr, conhecido como Prince. Casaram-se no final de 1996, logo após o divórcio de Michael e Lisa. Debbie resistiu bravamente à enxurrada de lixo midiático jogada sobre o casal. Em entrevista à Revista Magazine, em 1997, Michael resumiu: “Debbie e eu amamos um ao outro por todas as razões que você nunca vai ver no palco ou em fotos. Sinto-me devido a ela, ela caiu para mim, basta ser eu mesmo. [...] Debbie é uma mulher muito forte e solidária”. Debbie, por sua vez, não poupou elogios ao marido e pai de seu filho, ao ser perguntada como se sentia tendo se casado com o homem mais famoso do mundo: “O que eu fiz foi casar e ter um bebê com o homem que sempre amei e estou no topo do mundo. O único momento em que me sinto triste é quando vejo declarações atribuídas a mim que eu nunca dei ou quando ouço comediantes fazendo piadas baratas sobre meu marido, quando elas não são verdadeiras. Não acredite em 99% do lixo que você lê e ouve. Sei que estaremos sob crescente análise pública e eu não tento me adiantar a isso, mas sei que será sempre uma parte de ser casada com Michael”.

O casal teve também uma filha, em abril de 1998, a quem chamaram Paris Michael Katherine Jackson. Um ano depois, Debbie Rowe também pediu o divórcio, alegando não ter suportado a pressão de ser mulher de Michael, de sentir-se sufocada em não poder viver livremente, sem ser escoltada por um bando de seguranças até para ir ao supermercado. Não suportou estar na mira das câmeras dos paparazzis 24 horas por dia e ver sua imagem exposta a piadas, fofocas e invenções descabidas da imprensa tabloidiana.

Daí em diante, se Michael teve algum envolvimento afetivo, este não veio a público. Especulações dão conta de que havia alguém, e durante um bom tempo, mas no anonimato. Os achismos apontaram para a governanta dos filhos de Jackson, a ruandesa Grace Rwaramba, que trabalhou com o astro por 17 anos. Com ela, Michael dividiu a responsabilidade de educar seus três herdeiros: Prince, Paris e Blanket. Presença marcante ao seu lado, mesmo quando as crianças não estavam junto, Grace demonstrava gozar da mais absoluta confiança do Rei e sempre foi mais do que uma simples governanta. Eficiente conselheira, era tida como o braço direito e esquerdo de Michael, e uma conhecida ativista em causas humanitárias na África, principalmente com relação à AIDS, e contava com irrestrito apoio do artista.

Michael tinha consciência da extrema dificuldade de uma estrela mundial permanecer casado, por conta da pressão pública. Não há intimidade, não há privacidade, não há respeito humano com relação à vida privada dessas pessoas. Entende e quase se resigna com um destino solitário: “É difícil. É por isso que é difícil para mim. Não é fácil para celebridades permanecerem casadas”. Imagine, então, quando essa celebridade é Michael Joseph Jackson. Um Ser especial e único, inteiro e indomável. Cercear a liberdade de Michael é vê-lo escapar por entre os dedos, como as indomáveis águas do oceano. As mulheres que passaram por sua vida não entenderam isso; quiseram moldá-lo sob a forma socialmente aceita... Viram-no distanciar-se delas para manter-se íntegro consigo mesmo.

“Eu não sou fácil de conviver dessa forma para uma esposa. Eu não sou fácil e sei que não sou fácil. Porque eu dou o meu tempo para outra pessoa. Eu dou para as crianças, para alguém que está doente em algum lugar, para a música... E as mulheres querem ser o centro. [...] Mas é difícil me amarrar. Eu não consigo ficar em um lugar só e é por isso que eu não sei se eu posso mesmo ficar completamente casado, em tempo integral. [...] Eu não sei se sou disciplinado o bastante, porque eu sou como um “pedra rolante”. Eu tive um tipo de vida bem corrida, onde estou sempre me mudando e as mulheres não gostam disso. Elas querem que você se fixe em um lugar só, o tempo todo, mas eu tenho que me mudar. Eu tenho estado na mesma cidade onde está minha casa e vou para um hotel só para sentir que estou indo para algum lugar”. (BOTEACH-2009)

O que dizer, então, da mulher ideal? No mundo em que vivemos seria preciso “encomendar” uma que se encaixasse na lógica espiritual de Jackson: “mulheres femininas, que têm classe, são quietas e não essa coisa toda sexual e toda essa loucura, pois eu não estou nessa. [...] É preciso um molde muito especial para me fazer feliz.” Um molde que inclua gostar de brincadeiras, fazer coisas do tipo colecionar quadrinhos e ser bonita por dentro. “É raro. Se eu achar uma, vou ficar doido!”

Essa declaração de Jackson pode corroborar o comentário de sua irmã La Toya de que, apesar de ter-se casado duas vezes, Michael nunca se apaixonou de verdade.

Não é qualquer mulher que se sujeitaria a viajar o mundo inteiro, visitando orfanatos, hospitais e favelas, ao invés de frequentar restaurantes de luxo, teatros, festas, etc.! Não é qualquer mulher que se sujeitaria a acordar cedo todos os finais de semana para receber um bando de crianças pobres e outras tantas doentes para passar o dia em sua casa! Não é qualquer mulher que confortaria um marido que vai para a cama chorando porque uma criança, que nem é sua parenta, morreu de câncer e ele não pôde evitar! Não é qualquer mulher que concordaria em abrir mão de grande parte de seu patrimônio porque o marido resolve doar sem limites. Michael não pensava se aquela soma doada lhe fará falta para saldar seus compromissos imediatos. Primeiro doava, depois resolvia os problemas financeiros pessoais! Não é qualquer mulher que bancaria a lógica espiritual de um marido que resolvesse ir a um presídio conversar com uma criança que acabara de cometer um assassinato coletivo, por entender que ela chegou a esse ponto porque nunca teve amor, nunca conheceu o Amor. Ele iria lá só para dizer "Eu te amo"! Não é qualquer mulher que bancaria um marido que queria ter-se encontrado com Adolph Hittler, antes que ele tivesse cometido as atrocidades que cometeu, por achar que seus argumentos de Amor poderiam ter mudado essa história triste! As pessoas comuns não entendem a lógica espiritual de Michael, porque estão aquém da condição evolutiva dele... aí ele se torna idiota, excêntrico, polêmico, bizarro, Wacko Jacko...

Ele cita Lady Diana como seu ideal de mulher não porque era loira, bonita, magra, alta, bem vestida... Ele cita Diana porque era gentil, discreta, amorosa e comprometida com as causas humanistas. Essa é a lógica de "mulher ideal" para Michael. Uma mulher assim ele teria amado e não apenas se apaixonado!

Nas palavras da articulista Daniele Soares: Possivelmente, Michael também encontrou suas "Wendies" na vida. Mulheres que ele amava, mas que queriam de alguma forma mudar seu comportamento, deixando-lhe nenhuma outra opção senão a da escolha. A escolha da liberdade. E liberdade é exatamente o que representa Peter Pan. É estar livre não somente da idade adulta, mas também dos padrões polidos. É estar livre, principalmente, para saber os momentos certos de vivenciar o espírito infantil. Portanto, quando Michael diz que é Peter Pan, não pense que ele está sendo falso e simplesmente vendendo uma imagem de inocência. Ele é, de fato, Peter Pan de coração, mas muitos simplesmente ainda desconhecem o que Peter Pan realmente representa. (SOARES-2002)

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