PLAYLIST

quinta-feira, 8 de agosto de 2019

MICHAEL JACKSON
O HOMEM POR TRÁS DA MÁSCARA 
(Parte 2)

Por Conceição Vitor





MICHAEL JACKSON: O Homem por trás da Máscara

PARTE II

A Religiosidade substituindo a religião:
"A religião do futuro será cósmica e transcenderá um Deus pessoal, evitando os dogmas e a Teologia. Abrangendo os terrenos material e espiritual, essa religião será baseada num certo sentido religioso procedente da experiência de todas as Coisas, naturais e espirituais, como uma unidade expressiva ou como a expressão da Unidade."  (São palavras de Albert Einstein)

O misticismo religioso subtrai da humanidade uma série de informações e conhecimentos que os grandes Seres, missionários cósmicos, trazem aos mundos em processo evolutivo de menor alcance.

Nenhum dos grandes Mestres da Humanidade instituiu, em vida terrena, qualquer religião. Eles trouxeram, sim, um código de conduta ética, uma filosofia de vida e um modo-proceder que cada indivíduo, dada à sua condição evolutiva, absorveu à sua maneira. Isso gerou uma diversidade de interpretações tal que o mundo herdou uma gama considerável de seitas religiosas. Portanto, quem instituiu as religiões foram os discípulos, e os discípulos dos discípulos; nunca os Mestres.

Isto prova que a Divindade não pretende que o homem siga uma regra padronizada, seja um indivíduo manipulado por um código produzido pelo entendimento de alguns. A Divindade pretende que o indivíduo intua, reflexione e formule o seu próprio código de vida, embasado no seu entendimento do Conhecimento Universal.

Um mundo evoluído não tem religião nem tem fronteiras; tem religiosidade, isto é, ligação interna com o divino. É o mundo cantado por Lennon em "Imagine"; é o mundo cantado e, principalmente, vivenciado por Michael Jackson em pelo menos 35 anos dessa sua existência terrena.

Grandes Seres não têm religião, têm religiosidade. A religião limita, impõem conceitos e preceitos definidos, dogmas irrefutáveis. A religião restringe e enlaça o voo do Espírito, colocando limites ao imponderável.

A religiosidade liberta, nada impõe, nada define, nada restringe, nada limita; dá asas ao Espírito para que alce voos cada vez mais altos e trace o próprio caminho calçado em suas próprias convicções, em suas próprias reflexões, em sua capacidade de entendimento, na medida exata do seu rasgo de consciência.

Quando Michael se desligou da religião materna - Testemunhas de Jeová -, seu Ser já estava desperto e não cabia mais em concepções restritas e limítrofes. Vejam essa assertiva transparecendo em suas considerações:

Quando eu fiz o moonwalk pela primeira vez, na festa Motown 25, eles disseram que eu estava fazendo uma dança burlesca e que era 'suja'; e por meses eles disseram: “Nunca mais dance daquele jeito de novo”. Eu respondi que 90% do ato de dançar é mover a cintura. Eles responderam: “Não queremos que você faça isso”. Então, eu tentei, por muito tempo, dançar sem mexer essa parte do corpo. Quando eu fiz Thriller, com todos os zumbis e fantasmas, eles disseram que era demoníaco e parte do Oculto e que o irmão Jackson não podia fazer isso. Eu chamei meu advogado e, chorando, eu disse: “Destrua o vídeo. Destrua!” E por ele [o advogado] ter ido contra a minha vontade, as pessoas têm Thriller hoje. Eles me fizeram sentir tão mal que eu ordenei que minha equipe o destruísse”.

[...] Eles discriminam, muitas vezes, do jeito errado. Eu não creio que Deus quisesse tal coisa. Como o Halloween! Eu perdi anos de Halloween e agora eu faço. É legal ir de porta em porta com as pessoas te dando doces. Precisamos mais disso no mundo. Faz o mundo ficar unido.

Eu acho que o mal vive no coração das pessoas. Eu não acredito que haja um diabo por aí manipulando nossos pensamentos. [...] Eu pensava que o diabo era muito mal. Ele está nesta sala e está por trás de todo o mal nesse mundo. O diabo é muito ocupado. Eu acho que o diabo é o próprio homem.

Algumas pessoas acreditam na teoria do Big Bang, que eu não acredito, e outras acreditam na Criação, aquela história de Adão e Eva, que esse universo não foi um acidente. Dizer que esse universo foi originado pelo Big Bang ou por acidente é dizer: “Ok, eu quero que peguem um motor de carro, pois vamos tirar um pedaço e colocar numa banheira, e então eu quero que comecem a chacoalhá-la”. Você pode chacoalhar essa banheira por 100 anos que nunca irá se tornar o motor perfeito. Todas as peças para se juntarem e formarem um motor, é assim que a teoria do Bing Bang diz, e então houve uma grande explosão e agora temos crianças, árvores, plantas, o ar que respiramos, o oxigênio! Alguém tinha que criar isso, um designer tinha que criar isso!

Eu tento falar sobre os milagres da vida às crianças, olhar nos olhos delas; nossos corpos, como tudo funciona perfeitamente, isso não acontece por conta própria. De jeito nenhum! Então, eu pergunto por que estamos aqui e por que nos permitimos nos destruir? Por que somos a única espécie que se destrói? Eu não entendo como tanta injustiça acontece. (BOTEACH-2009)
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Michael encontrou a religiosidade, o Deus imanente ao seu Ser, sem templos de pedra, sem limites sócio-político-geográficos, sem regras pré-concebidas. Não o Deus que se revela externamente, mas o Deus que se descobre em si mesmo... “eu não sou Jesus, mas tenho que agir como Ele em meu coração”.

Passou por tantas e duras provações desde a infância, mas sempre se manteve brindando a humanidade com seu sorriso magnífico, o olhar terno e a voz doce como uma melodia, além de toda a magia nos palcos, o carinho com os fãs e a invariável educação no trato com as pessoas. E, acima de tudo, manteve a fé e a confiança na divindade, na vida e em si mesmo. Essa força espiritual, essa firmeza de postura independente ao que a alma se exponha é a religiosidade intrínseca ao Ser. Esse é o verdadeiro sentido de "dar a outra face", nas palavras de Jesus. Mostrar dignidade é estar acima das misérias dos seus algozes.

E ele continua dizendo: “Eu creio que Deus existe, mas não acredito que Deus julga. Eu não acredito que Ele está lá em cima dizendo: ‘você está certo, mas eu vou aniquilar você’. Eu não penso assim.  [...] Você vê todos esses milagres feitos por Ele, mas você não O vê. Eu O vejo através das crianças. [...] Te fazer procurar por Ele e encontrá-lo... eu adoro isso! Ele é o essencial. Ele é... Ele é o Cara!” (BOTEACH – 2009)

Eu sei que não sou um anjo e não sou um demônio também. Eu tento ser o melhor que posso e eu tento fazer o que eu acho que é certo. É simples assim... Eu não rezo apenas a noite. Eu rezo em diferentes horas, durante o dia. Quando eu vejo algo bonito, eu digo: “oh, Deus, isso é lindo!” Eu rezo pequenas orações como essa o dia todo. Para lidar com o estresse do mundo do show business eu me volto para a divindade, não para as drogas. Por mais sentimental que possa parecer, as alturas na natureza são as melhores alturas do mundo. As estrelas, as montanhas, as crianças, bebês sorrindo são mágicos. (JOHNSON – 1979)
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Nas palavras de Kenny Ortega: "Você é um Templo e eu sou seu devoto". Acho que isso expressa bem o sentimento que Michael desperta nas pessoas do Bem. Por outro lado, desperta um ódio de igual intensidade nas pessoas do Mal. O Bem sempre incomoda substancialmente os ainda inconscientes da Verdade divina. Verdade e bondade que Michael representa com inegável competência e clareza. A Luz sempre ofusca e faz doer os olhos daqueles que pouco enxergam.

Anti-racista:
Nasceu negro e foi ficando branco até colocar à vista que, independentemente da cor da pele, a essência do homem é a mesma. Somos realmente iguais. O seu branco incomum, ultra-sensível à luz solar, fez de seu guarda-sol quase que uma extensão de si mesmo. E Michael o empunhava como se fora um escudo contra o inimigo. Acostumava-se com os revezes e adaptava-se, sem queixas, às suas limitações.

Mas, por conta de uma doença silenciosa, Michael foi acusado de racista, de não querer ser negro, de ter vergonha de sua origem. Quanta ignorância! Ou seria maldade mesmo? Não importa. Ele sabe o grande homem que é.

Jackson, desde os tenros anos de inocência, sofreu com o racismo tão arraigado no coração da América.

Em uma de suas poucas entrevistas, em 1979, Michael revela: “As pessoas disseram a nós para lidar com isso, porque é como o Sul é. Isto é ignorância, e é ensinada, porque não é realmente genética. [...] É por causa disso que eu tento escrever, colocar nas minhas músicas, na minha dança, na minha arte - para ensinar o mundo. Se políticos não podem fazê-lo, poetas o deveriam colocar na poesia, e escritores o deveriam colocar em livros. É o que temos que fazer, e eu acho que é tão importante salvar o mundo!”

Os anos passam, as décadas se vão e o ser humano não consegue avançar na conquista de seus valores. Conquista a ciência, domina o poder sobre os outros, mas não o poder sobre si mesmo. Sai da ignorância intelectual, mas não consegue dar um passo para sair da ignorância espiritual. É inacreditável como o Mal resiste e como a inconsciência humana lhe dá forças. Não podemos combater aquilo que não conseguimos ver. O grande véu da inconsciência ainda nos vela a visão das grandes Verdades do Conhecimento Universal.

Michael não. Michael sempre teve “olhos de ver e ouvidos de ouvir”. Consciente, centrado, virtuoso e seguro de suas convicções.

Ele confidenciou com o rabilo Schmuley Boteach, em 2002: “Eu não entendo o racismo. Minha mãe - e ela é um anjo, é uma santa – ela estava saindo do supermercado e havia um bloqueio em minha casa em Encino; ela estava no Mercedes dela. E um cara branco gritou: “Volte para a África, sua crioula!” Isso me magoou muito e isso não foi mais do que cinco anos atrás. O cara tinha inveja. Eu sei de histórias sobre meus irmãos em seus Rolls-Royces, quando saiam, trancavam os carros e então, quando voltavam, eles haviam descoberto que um cara branco riscara os carros com uma chave só por que era um negro quem dirigia. Eu odeio coisas assim, pois a cor da pele de uma pessoa não tem nada a ver com o conteúdo de seu caráter. Eu amo os bebês judeus, os bebês alemães, os asiáticos, os russos... Somos todos iguais e eu tenho a hipótese perfeita para provar isso. Eu toco para todos esses países e eles choram em todos os meus shows. Eles riem, ficam histéricos, desmaiam... Existe algo que diz que todos somos os mesmos!”

Viajante do entretenimento, Michael conheceu o mundo e as peculiaridades de suas paragens, tirando de cada uma ensinamentos para a sua bagagem cultural e espiritual. Reflexivo, ele revela que gostaria de tomar emprestado de outros países, como os da América do Sul, “o verdadeiro amor e pessoas que não veem a cor, e trazer isso para a América do Norte (EUA)”. Na concepção de Michael, o norte-americano sofre uma verdadeira lavagem cerebral social, com relação ao preconceito racial.

Dos lugares que conheceu pela vida, Michael se ilumina quando fala da África:

“Eu sempre pensei que os negros, em termos artísticos, eram a raça mais talentosa na Terra. Mas quando eu fui à África, fiquei até mais convencido. [...] Eles têm as batidas e o ritmo. Eu realmente vejo de onde a bateria vem. Faz você pensar que todos os negros têm ritmo... Eu quero que os negros jamais se esqueçam que este é o lugar do qual nós viemos e de onde nossa música veio”. (Johnson – 1979)

Um Homem de Negócios:
Ao contrário do que a maioria pensa e do que a imprensa divulga, Michael é um homem com visão comercial, um homem de negócios, e sabe detectar onde estão os maiores investimentos. É bem verdade que tem, de quando em quando, conselheiros capacitados e bem-intencionados (outras tantas vezes, um bando de aproveitadores), mas o felling final é sempre seu.

Corajoso por natureza, ele sempre arriscou alto e, como um “visionário” – nas suas próprias palavras – acertava em cheio. Chegava à frente nos negócios (como em tudo na vida) e por isso angariou muita inveja e ganância à sua volta. Prosperar é a sua palavra de ordem. Igualmente corajoso, não tem dó de gastar com coisas que o fazem feliz e muito menos quando o assunto é ajuda humanitária: doou milhões e milhões de dólares ao longo de sua vida.

Mas o amigo David Gest revelou uma oura faceta de Jackson, que ninguém imaginaria: ele era um tremendo pechincheiro. “Michael discutia preços nas lojas. Se alguma coisa custava U$ 4.000, ele seria insolente o bastante para oferecer U$ 200. Era um negociador astuto”.

A maior e mais comentada propriedade de Jackson, a Neverland Valley Ranch (Rancho Vale da Terra do Nunca), no Vale Santa Ynez, ao norte de Los Angeles, costa da Califórnia, era um sonho de 2,7 mil acres (10,93 km2) de terra, avaliado em 22 milhões de dólares. Esse lugar mágico – que a maldade do mundo normal conseguiu macular – encravado entre os carvalhos do Condado de Santa Bárbara, além da casa principal, em estilo Tudor, compunha-se de um forte de dois andares, um parque de diversões completo, um zoológico, um complexo de cinema e teatro, um grande lago, com seu barco em forma de cisne e vários Jet-skis; piscinas, salas de jogos eletrônicos, casa da árvore, salão de doces, quadras de esportes, cama elástica, um trem a vapor que circundava toda a propriedade, uma vila indígena com aldeia, estátuas de nativos e um mastro de totens; um jardim totalmente florido e um exuberante bosque de carvalhos.

Assim escreveu a articulista Daniele Soares, em seu artigo “O Espelho de Pan”, em abril de 2002:

O quarto do Rei tinha uma cama king size, paredes com pôsteres de Peter Pan e vários espelhos, com vista para um magnífico jardim escondido por uma muralha de pedra de dois metros de altura. Uma passagem secreta levava ao Quarto do Tesouro, onde Michael guardava objetos de valor material e pessoal. “Em Neverland, Michael não tem que crescer, ninguém tem. Quando os enormes portões de ferro da propriedade se abrem, o encanto segue junto” (SOARES – 2002).

Desiludido com as calúnias de pedofilia, que transformaram o seu sonho de Neverland em um pesadelo horroroso, Michael deixou a propriedade, em 2005, e não mais voltou. Ainda assim, seu espólio é dono de 50% da propriedade. O injusto processo judicial de 2003-2005 marcou profundamente a alma de Michael e lhe trouxe considerável prejuízo financeiro, pois, além de interromper sua carreira, ainda teve que desembolsar fortunas para os honorários advocatícios. Michael nunca mais foi o mesmo, mas seu patrimônio, apesar das dívidas, hoje já inexistentes, ainda assombra.

Além de marcas, patentes, direitos autorais e imóveis, Michael é proprietário de diversas companhias e sócio em outras. Em 26 de junho de 2009, Tim Arango e Ben Sisario escreveram no jornal New York times:

A vida de Jackson nos negócios e a sua vida pública eram uma massa de contradições desconcertantes. Ao contrário de muitos artistas, ele era um negociador afiado e investigador perspicaz – em 1985, ele fez um dos maiores negócios na história da indústria musical, quando comprou os direitos de publicação do catálogo dos Beatles por U$ 47,5 milhões de dólares. Hoje, isso é parte de uma coleção de canções que vale mais de US$ 1 bilhão, e de propriedade em parceria com a Sony.

Dívidas ele as tinha, e muitas, como as tem todo homem de negócios, mesmo porque é impossível prosperar sem riscos, sem sair da zona de conforto. Michael ousava nos negócios como ousava na música e na maneira de viver. Simplesmente, um Ser além do seu tempo.
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