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sexta-feira, 16 de março de 2018

Paradoxal

Por Conceição Vitor


Maior estrela do Planeta! E com fama de ser perfeccionista... nossa! A mente já imagina uma avalanche de chiliques e não-me-toques. Exigências das mais escabrosas e excêntricas. Ataques de nervos e estrelismo. Um mimado exigindo coisas do tipo: me sirvam, me papariquem, me abanem, deitem-se no chão para me servirem de tapete, quero 300 dúzias de flores silvestres que não existem no seu país, ou quero 200 toalhas brancas por dia em meu camarim.

Mas aí você vê entrar uma figura sem ostentação, sem passos largos e nariz para cima; uma figura fina na forma e na essência, gentil, cortês, invariavelmente educada...

Quanta delicadeza em sempre pedir e não mandar...! Quanta generosidade em agradecer cada gesto, cada atendimento às suas solicitações...! Quanta humildade em abençoar cada elogio, cada referência à sua performance ou à sua pessoa!

Esse menino de sorriso meigo e sincero, sem soberba e sem arroubos de estrelismo é o homem mais famoso do Planeta, respeitado e reverenciado por autoridades e personalidades mundiais? Mas é. E por isso o é. Porque soube exercitar a virtude da gratidão e da humildade, em cada momento da sua vida artística e pessoal.

Michael é sempre grande demais ou pequeno demais; nunca um lugar comum. É sempre amado demais ou odiado demais, porém nunca indiferente. Tem a força interior de um mestre e a fragilidade física de um passarinho.... O olhar traz força e profundidade, mas traz também ternura.... O semblante carrega a autoridade, a firmeza, a candura e a serenidade ao mesmo tempo.

Ele consegue ser o guerreiro e o anjo simultaneamente, porque, em seu interno, convivem em perfeita harmonia a natureza humana e a natureza espiritual, o profano e o divino na dose perfeita.

Força e Fragilidade

Aparência frágil como uma planta. Leve, delgado, passos sutis e quase inaudíveis. É praticamente uma outra dança.... Mas ele corre... e como corre! Nas inocentes palavras de seu caçula Blanket: “Não aposte corrida com meu pai porque você vai perder”!... Porém, mesmo correndo, Michael parece não ter peso. “Parecia uma entidade tentando caminhar na Terra”, observa um jornalista que fez a cobertura de Michael quando a World Dangerous Tour passou por São Paulo.

Mas o Michael que vemos no palco é um homem forte, basta denotar o seu fantástico condicionamento físico. São duas horas de dança, saltos, flexões e contorções que parecem não o fatigar. Pequenos exercícios de respiração reconstituem, em alguns segundos, as energias físicas do astro. E ele está pronto para mais uma performance de arrancar o público do chão e do juízo.

Jackson tem, também, considerável força nos braços e pernas. Nas suas próprias palavras, ele é capaz de levantar um adulto sem esforço.

No entanto, se o corpo é frágil, a alma é robusta. A postura interna do delgado Jackson inibe tal qual a robustez de um titã.... Ele tem identidade, ele tem autoridade e diante dele, ou na presença dele, tudo e todos em volta se apequenam. Grandes empresários, autoridades, políticos, celebridades... quantos deles se curvaram à força interna de Jackson, rendendo-lhe respeito e admiração: Jimmy Carter, Ronald Regan, Jackeline Kennedy, Nelson Mandela, centenas de artistas de diversas nacionalidades....


Um homem forte! Um frágil homem forte! “Michael é uma brandura, mas muito forte de um jeito. Ele tem pele grossa”. Quem diz é Katherine Jackson.... “Eu não deixo nada me derrubar, não importa o quê”, afirma ele próprio. E quando o mundo pensa que o venceu, ele ressurge mais forte, mais experiente, mais confiante: Invencible, Unbreakable!

E esta “morte” pode não ter sido, ainda, a cortina final, porque nela Michael se imortalizou. Ficou encantado entre o mundo físico e o astral.

Humildade e Prosperidade


Comumente, humildade e prosperidade dariam a ideia de absoluta incompatibilidade, antagonismo até, mas a verdadeira prosperidade é fruto do trabalho e da humildade. Michael sabiamente conjugou as duas coisas na medida exata do estrondoso sucesso que alcançou. Quanto mais próspero, mais humilde e mais solidário ele ficava.

A frase bíblica atribuída a Jesus de que “seria mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no reino dos céus” é a expressão da dificuldade que o ser humano tem de lidar com os egos. A fortuna, a posse, o ter exacerba a soberba e afasta a humildade. É preciso ser muito forte para manter-se humilde e solidário dentro da riqueza.... Jackson foi capaz. A consciência de que toda a sua genialidade é um dom divino e não um atributo pessoal o ajudou a se manter no prumo, a não deixar o sucesso subir à cabeça e a jamais perder o senso de gratidão, embora bilionário.

Black or White


Quando, na década de 80, recebeu o diagnóstico de vitiligo, Michael não perdeu somente a melanina do seu organismo; perdeu principalmente o sossego. Os juízes da imprensa sensacionalista e da imprensa em geral se encheram de razão e decretaram a sentença: Michael é racista e está descolorindo a pele porque não quer ser negro. Mas essa é a ótica da maldade humana e não a realidade.

O vitiligo é uma enfermidade degenerativa em que ocorre a perda da melanina, pigmento responsável pela coloração da pele e, por vezes, até dos pelos, porque os melanócitos - células produtoras da melanina - são destruídos.

A causa que leva o organismo a agir autodestrutivamente é desconhecida, mas os fatores que desencadeiam esse comportamento podem ser herança genética, disfunção do sistema imunológico, como o lúpus; stress psicológico ou pós-trauma de queimadura solar grave.

Portanto, motivos não faltaram a Michael para adquirir a síndrome, pois tem herança genética na família paterna, viveu sob pressão e estresse psicológico desde a infância, sofreu acidente com queimaduras de 2º e 3º graus no cérebro, quando gravava um comercial para a PEPSI, e desenvolveu o lúpus discoide. Ninguém até hoje sabe como Michael saiu sem sequelas do acidente pirotécnico da PEPSI, com sérias e profundas queimaduras no cérebro. O vitiligo pode ter sido desencadeado aí, pois os sintomas apareceram no início da Era Thriller.

A princípio, ele tentou disfarçar até mesmo da sua maquiadora Karen Faye e se enchia de maquiagem escura para camuflar as manchas. Porém, a doença avançou rapidamente e Michael não teve mais como esconder. Com mais de 60% do corpo tomado pelas manchas super brancas, o tratamento adequado foi clarear o restante da pele e ser injustamente acusado de racista. A dor o inspirou a escrever a lendária “Black or White”, afinal, o que importa a cor da pele? Por baixo dela somos todos iguais. Além do que, nosso caráter e nossos valores não têm cor.

Uma luta psicológica: foi isso que Jackson travou ao ser diagnosticado o vitiligo e, junto com ele - ou por causa dele -, o lúpus discoide. O vitiligo em pele branca já é desconfortável; o vitiligo na pele negra é traumatizante. E Michael é um homem público, é um homem do show business, onde a imagem física é o cartão de visitas. “Eu não quero ficar parecendo uma vaca malhada” disse ele à mãe. O que ele teve que enfrentar internamente só ele pode dizer, mas não diz. Ele é discreto e é forte: enfrenta sozinho.

O paciente de vitiligo não deve expor a pele branca ao sol, pois a ausência do pigmento produz queimaduras e aumenta a predisposição ao câncer de pele. Portanto, o famoso e inseparável guarda-chuva de Michael não é frescura, é cuidado. Mas que é um charme ver o Mestre com seu cajado... ah, isso é!

Lúpus é uma enfermidade inflamatória crônica, autoimune e recorrente de causas desconhecidas. Vários são os vilões suspeitos, mas nenhuma é a certeza: vírus, bactérias, agentes químicos, radiação ultravioleta, estresse psicológico, etc.; atacam o sistema imunológico do paciente e ativa a produção inadequada de anticorpos. Trata-se de uma doença causadora de inflamações em várias partes do corpo, principalmente na pele, nas juntas, nos rins e no sangue.

Há três tipos de lúpus: lúpus discoide, lúpus sistêmico e lúpus induzido por drogas. Mas vamos nos ater ao lúpus eritematoso discoide (cutâneo) por ser esse o diagnóstico de Jackson, por seu dermatologista, Dr. Arnold Klein, na década de 80.... Esse tipo de lúpus pode afetar, em especial, a pele e o couro cabeludo.

Cerca de 10% dos pacientes do tipo discoide acabam por desenvolver o lúpus eritematoso sistêmico (LES), considerado o mais grave porque pode atingir vários tecidos e órgãos do corpo. Os sintomas predominantes do discoide são erupções cutâneas no rosto, couro cabeludo, orelhas, parte superior do tronco, dorso dos braços, etc, como pequenas moedas vermelhas. O paciente apresenta fotossensibilidade e, durante a crise, pode sentir dores nas articulações.

Fácil perceber os agentes desencadeadores do lúpus em Michael, não? Vitiligo, estresse psicológico provocado pela pressão do pai, da mídia e de seu próprio perfeccionismo e a grande quantidade de analgésicos que ingeriu após o acidente com fogos de artifício, porque as dores eram insuportáveis.

Perceptíveis também eram os sintomas da doença na insônia, nas perdas de peso sem motivo aparente, nas constantes dores musculares, na redução de apetite, nas articulações das mãos de Jackson que, muitas vezes, apresentavam inchaço e vermelhidão, ou pequenas feridas no dorso da mão, no braço e na cabeça.... Eram as crises do lúpus.
Em muitas ocasiões, Michael era visto saindo do dermatologista com uma touca de banho na cabeça. Eram as dolorosas aplicações de corticoide – único medicamento com alguma eficácia sobre o lúpus -, e pomadas no couro cabeludo, que era protegido pela touca. E os críticos de plantão julgavam e ridicularizavam: “lá vai o louco de touca de banho no meio da rua”. E ele saía da clínica meio grogue mesmo, porque o corticoide (corticosteroide) é quase uma quimioterapia, portanto, dói, dá mal-estar e provoca tonturas.

Aquelas feridinhas, que ora apareciam, ora sumiam dos braços e mãos de Michael, não eram câncer de pele não, ilustres tabloides; eram crises recorrentes de lúpus. Aquela pele que era negra e foi ficando branca e aquele monte de frascos de pomada para clareamento não foram por racismo; foram para tornar a doença menos chocante ao olhar das pessoas.

Black or White, negro ou branco, não importa; o que importa é a essência de uma pessoa.

Paradoxo do Belo


Michael tinha obsessão pelo Belo. Amava a bela arte e seus grandes mestres. Amava a beleza interior, mas, paradoxalmente, amava também o belo exterior, o estético. Isso parece contradizer o que revela no livro “Michael Jackson Tapes”: “todas as pessoas são belas por dentro x a velhice é feia x eu pareço um lagarto e me sinto enjoado de me ver. Não quero que as pessoas me vejam”. Por isso, as máscaras e os óculos? Mistério ou desconforto em se mostrar da forma que se via?

Michael foi condicionado por Joe Jackson a se ver feio-com-nariz-enorme, e tentava se reesculpir sempre para ser aceito e amado pelo pai. Isso perdurou machucando-o psicologicamente por toda a sua existência, transformando seu rosto. Sua obsessão: o nariz.

 Analisando fotos desde sua mais tenra adolescência, pude concluir que ele realmente só mexeu no nariz e fez um furinho no queixo, como ele mesmo admite. Vemos que, desde o início, Michael tem o formato quadrado do rosto e as mandíbulas salientes.... Com a idade, a retração e a flacidez dos músculos faciais são inevitáveis. Isso fez "parecer" que a mandíbula estava mais larga, o queixo mais proeminente e o consequente aprofundamento do furo frontal. Não foram plásticas. Usando as palavras de Michael, essas transformações se chamam: infância, adolescência, juventude, madureza e... ele não gostaria de experimentar a velhice que destrói o Ser.

 Entretanto, se o que conta para Michael é a beleza interior dos seres, porque as rugas e as limitações senis o incomodam tanto - apavoram até?

“Eu só não quero ficar velho e começar a esquecer. Quando eles (idosos) começam a esquecer e a enrugar, e seus corpos começam a deteriorar, isso me machuca. [...] Veja o Fred (Astaire) .... Eu não sabia que alguém podia se mover tão belamente, sabe? E quando eu o vi chegar a um ponto.... Um dia ele disse para mim: “Sabe, Michael? Se eu der um giro agora, eu cairia de cara. Meu equilíbrio se foi totalmente”. E quando ele atendeu a porta de casa, um dia em que fui visitá-lo, era assim que ele andava... pequenos passinhos... isso me partiu o coração, me machucou e, no dia em que ele morreu, aquilo me matou, me destruiu”. (BOTEACH-2009)

Sexualidade e Sublimação


Assunto difícil de abordar em época atual, quando o sexo está tão banalizado e tão tergiversado que perdeu totalmente o sentido, a essência. Os grandes sábios da Humanidade, as grandes culturas milenares conheciam e praticavam o sexo na sua forma mais sublime, mais valorosa, mais significativa, como agente impulsionador de sabedoria e de evolução.

A mesma energia que alimenta a atividade sexual alimenta igualmente a atividade de criação, em especial a atividade artística: a Libido. Grande parte da capacidade sexual de artistas é consumida na arte, mas, hoje em dia, o apelo sexual é tão forte e tão ostensivo que o indivíduo se entrega, apesar de já saciado sexualmente pela atividade de criação. E se entrega porque virou obrigação - se não quiser ser chamado de homossexual -, que o indivíduo faça sexo sempre que solicitado, sempre que estimulado ou provocado.

Michael faz sexo o tempo todo: enquanto cria, enquanto performa, enquanto faz filhos.... É sexo superior, é sexo alquímico. É sexo que não desperdiça a energia criadora “pegando mulheres” por aí, sem o menor sentido e proveito para a sua essência espiritual. A sua sensualidade explosiva no palco é um ato sexual, é um orgasmo alquímico que jorra o sêmen para dentro e para cima; não para baixo e para fora como a maioria esmagadora de todos nós. É um orgasmo que vai para a coluna e o cérebro, para a consciência, para a essência e ele se torna cada vez mais genial.

O homem terráqueo da atualidade joga fora a própria vida na promiscuidade (Sêmen = fonte de vida), na sexualidade sem afeto, e perde a vitalidade, a capacidade mental, intelectual, emocional, intuitiva, física, essencial. Ele adoece cedo, ele morre cedo.... Corpo e mente se deterioram com facilidade e a decrepitude física e mental ganha terreno até perecer... e perecer muito cedo. O mesmo se aplica às mulheres.

Nas civilizações antigas, quando a Humanidade ainda detinha o Conhecimento, a Sabedoria, o líquido da vida era valorizado e preservado. Os egípcios primordiais chegavam a viver 300 a 400 anos em pleno vigor fértil, saúde física e mental. E hoje?

Michael não é assexuado e muito menos homossexual. Também não é um santo. É apenas – eu digo e repito - um sábio.

A Conexão Rei do Pop e Michael Joe Jackson


Michael Joseph Jackson, o astro mundial, a imagem; e Michael Joe Jackson, o homem, o ser, a essência. Até no nome eles são diferentes: um nome artístico, um nome civil. Mas as diferenças não se encerram na grafia do nome, apenas começam.

Na casa do Rei do Pop não se ouve pop, ou rock, ou soul. Na sua casa se ouve Mozart, Debussy e não Thriller. Aquela voz pequena, quase um sussurro, que se ouve em público não é a mesma voz firme e em tom perfeitamente audível da intimidade. Muito menos se mantém na convivência familiar e com amigos a risadinha apertada e tímida que não passa de um “hihihihihi”; Michael sabe gargalhar como ninguém.

Quando do depoimento de Debbie Rowe, no processo contra Jackson, em 2005, ela chorou ao dizer que "há dois Michael's diferentes: há o meu Michael e o Michael que todos os outros veem".

Mas ele não é um homem de duas personalidades, e sim um homem de identidade, de autenticidade. É tudo uma questão de postura, de saber identificar momento e lugar em que as coisas têm que ser de um jeito ou de outro. Tímido, em público ele se mostra retraído e diminuto, porém firme. Na intimidade, mais seguro e sem julgamento, ele se agiganta e se mostra maior.

Com os filhos, o meigo e doce Michael sabe dosar carinho e autoridade, complacência e exigência. Sim é sim, não é não; e a capacidade de identificar quando pode ser o “sim” e quando deve ser o “não”.

É a grande sabedoria de aproximar os extremos, ou centralizar os extremos até que não se identifique um e outro. É a difícil e ambicionada sabedoria do “caminho do meio” tão decantada pelos grandes pensadores e sábios.

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Fonte:
- Livro "Simplesmente Michael - Mistérios e Enigmas de uma Lenda Viva" (Autora: Conceição Vitor; Editora Baraúna; Págs. 301-310)

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