PLAYLIST

sábado, 25 de novembro de 2017

MICHAEL JACKSON
E A ARTE DA COMPAIXÃO



Alguns trechos do texto extraído do livro de Joseph Vogel, intitulado “Earth Song: Michael Jackson e a Arte da Compaixão”, com tradução do Blog “Cartas Para Michael”.

______________________________

Talvez, o traço mais comum associado à celebridade seja o narcisismo. Em 1988, Jackson provavelmente teria tido motivos para ser absorvido. Ele era a pessoa mais famosa do planeta. Em todo lugar que viajava, ele criava histeria em massa. No dia seguinte ao seu concerto esgotado no Prater Stadium de Viena, um artigo da AP correu – “130 fãs desmaiam no Concerto de Jackson”.

Se os Beatles eram mais populares do que Jesus, como John Lennon afirmou anteriormente, Jackson teve toda a Santíssima Trindade. No entanto, enquanto Jackson apreciava a atenção – na verdade, até prosperava nela de certa forma – ele também sentia uma profunda responsabilidade em usar sua celebridade mais do que para fama e fortuna.

Em 2000, o Livro Guiness de Recordes citou a ele como a estrela Pop mais filantrópica da história. Ao longo de sua vida, ele doou mais de US$ 300 milhões a instituições de caridade, incluindo a Make-A-Wish FoundationElizabeth Taylor AIDS Foundation, NAACP, INICEF e Cruz Vermelha, entre dezenas de outras.

─ “Quando você viu as coisas que eu vi e viajou por todo o mundo, você não seria honesto com você e com o mundo para ...”[desviar o olhar], disse Jackson.

Este foi o ponto de sua música de sucesso “Man in the Mirror”, que alcançou o #1 no Billboard Hot 100, na primavera de 1988. A música era sobre um despertar pessoal. Era sobre reconhecer que a mudança não acontece sozinha. Isso exige que as pessoas se conscientizem, que se preocupem com mais do que elas mesmas, e façam algo.

[...]

“Façam essa mudança”, ele convocou seu público. Numa época muitas vezes caracterizada pelo individualismo, a ganância e o materialismo, era um hino de consciência e responsabilidade. Jackson doou todos os lucros desta música ao Camp Ronald McDonald for Good Times, ajudando as crianças que sofrem de câncer.

Ainda mais significativos do que doar dinheiro, no entanto, Jackson doou seu tempo. Em quase todas as paradas na sua Bad World Tour, ele visitou orfanatos e hospitais. Poucos dias antes de chegar à Viena, em Roma, ele passou pelo Hospital Infantil Bambin Gesu, distribuindo presentes, tirando fotos e assinando autógrafos. Antes de partir, prometeu uma doação de mais de US$ 100 mil.

Antes de um concerto em Londres, no Estádio de Wembley, ele visitou o Great Ormond Street Childen´s Hospital. Jackson passou horas falando, segurando e confortando crianças, algumas das quais eram doentes terminais.

De acordo com uma notícia local, a estrela Pop “se ajoelhou e contou histórias”; ele também “entregou dezenas de presentes, álbuns, fotos e camisetas”.

Jackson doou 100 mil libras ao hospital. Além disso, deixou uma quantia não divulgada de dinheiro para o Wishing Well Found, para ajudar o London´s Hospital for Sick Children, que ele também visitou durante sua estadia.

Ao longo da Bad World Tour, antes e depois dos concertos, Jackson teve crianças desprivilegiadas e doentes trazidas nos bastidores. “Todas as noites, as crianças entravam em macas, tão doentes que dificilmente podiam segurar a cabeça”, lembra o instrutor de voz Seth Riggs. “Michael se ajoelhava junto às macas e colocava o rosto para baixo, ao lado deles, para que ele pudesse tirar sua foto com eles e, em seguida, lhes entregava uma cópia para lembrar o momento. Eu não conseguia lidar com isso. Eu estava no banheiro, chorando. As crianças ficavam bem na sua presença. Se lhes desse mais alguns dias de energia, Michael dizia que valeria a pena”.

Em todo lugar por onde passava a turnê, ele tentava contribuir de alguma forma. Em Detroit, doou US$ 125.000 para o Museum Motown. Na cidade de Nova York, entregou US$ 600 mil para a United Negro College Found. No Japão, entregou US$ 20 mil para a família de um jovem que foi assassinado, e centenas de milhares de dólares para hospitais e escolas. Quando a turnê terminou, ele leiloou seus itens pessoais, com todos os ganhos para a UNESCO.

Este foi o homem que os tabloides britânicos passaram a chamar de “wacko Jacko”, que a revista People, menos de um ano antes, declarou na capa: “Ele está de volta. Ele é Bad. Esse cara é estranho ou o quê?”

A gentileza e a compaixão de Jackson não eram uma boa notícia. Se fossem citadas, geralmente eram enterradas por trás de histórias sobre sua cirurgia plástica ou sobre o chipanzé de estimação.

A filantropia de Jackson na Bad World Tour não era novidade. Em 1984, depois de ter seu cabelo incendiado enquanto filmava um comercial da Pepsi, Jackson inaugurou o Michael Jackson Burn Center – uma ala do Brotman Medical Center, em Culver City, um dos únicos centros de queimaduras muito necessários na área de Los Angeles.

─ “Eu queria fazer algo”, disse ele, “porque fiquei emocionado com os outros pacientes de queimadura que conheci, enquanto eu estava no hospital”.

Jackson sofreu queimaduras dolorosas, de segundo grau, no couro cabeludo, mas o pessoal do hospital se lembra dele usando grande parte do tempo, visitando e confortando outros pacientes. Jackson doou todo o montante que recebeu da Pepsi pelo acidente – US$ 1,5 milhões – para o Burn Center. Naquele ano, Jackson também doou o seu lucro individual na Victory  Tour para uma instituição de caridade – cerca de US$ 5 milhões.

Em 1985, Jackson se juntou ao esforço da USA FOR ÁFRICA, dirigido pelo ator e ativista Harry Belafonte e pelo gerente de música Ken Krager. [...]

A visão de Belafonte era reunir artistas americanos por uma causa urgente: arrecadar dinheiro e conscientizar sobre a fome na Etiópia, que estava deixando centenas de milhares de pessoas, incluindo crianças pequenas, famintas e doentes.
[...]
Em 1985, cerca de um milhão de pessoas morreram, de acordo com a ONU. Belafonte chegou ao produtor Quincy Jones e falou sobre a criação de uma música para a USAFOR ÁFRICA. Jones, por sua vez, alcançou Lionel Richie, Stevie Wonder e Michael Jackson. Como Stevie não estava disponível, Jackson e Richie ficaram à frente.

O objetivo de Jackson era escrever uma melodia para que alguém pudesse assobiar, entre culturas e bações, mesmo que não entendesse as letras. Para “We Are The World”, ele se lembra de entrar em espaços escuros, um armário ou um banheiro, e tentar imaginar as pessoas na Etiópia: suas vidas, seus sofrimentos, sua humanidade.

Quando ele trouxe algumas anotações, fez ouvir a irmã mais nova, Janet.

─ “O que você vê quando ouve esse som?”, ele perguntou.

─ “Crianças moribundas na África”, ela respondeu.

─ “Você está certa”, disse Jackson, “Isso é o que eu estava ditando da minha alma”.

Jackson continuou a desenvolver a música com Richie, nos dias e semanas seguintes. No início de janeiro, ele já havia gravado uma demo solo e enviou para Quincy Jones. Jones adorou o que ouviu. “Uma ótima música dura para a eternidade”, refletiu mais tarde o produtor. “Eu garanto que se você viajar para qualquer lugar do planeta hoje e começar a cantarolar as primeiras linhas desta música, as pessoas saberão imediatamente de qual se trata.

A sessão de gravação oficial foi agendada para 22 de janeiro de 1985, no A&M Recording Studio, em Los Angeles. [...] Quincy deixou uma placa na porta da sala, que dizia: “Deixem seus egos na porta”.

A lista de lendas que se reuniu naquela noite foi notável: Ray Charles, Bob Dylan, Stevie Wonder, Diana Ross, Bruce Springsteen, Billy Joe, Steve Perry, Tina Turnner, Cyndi Lauper, Willie Nelson e Paul Simon, entre dezenas de outros.

“Aqui, você tinha 46 das maiores estrelas da música mundial em uma sala, para ajudar as pessoas em um lugar distante, que estavam em necessidade desesperada”, lembra Jones. “Eu não acho que a experiência naquela noite será verdadeiramente duplicada novamente. Conheço e acredito no poder da música para unir as pessoas para o melhoramento da humanidade, e não pode haver um exemplo melhor disso do que o coletivo que foi “We Are The World”.

Jackson saiu do American Music Awards naquela noite e se dirigiu cedo ao estúdio par gravar sua parte. Quando o restante dos artistas chegou, ele, Lionel, Stevie e Quincy os ajudaram a aprender suas partes individuais e o coro. Ele caracterizou o processo de criação e gravação como uma “experiência espiritual”. A maioria dos artistas concordou. Eles descrevem um verdadeiro senso de alegria, unidade e propósito. “Cada segundo, naquela noite, foi mágico”, lembra Quincy Jones. “Como artistas, todos somos apenas instrumentos para os sussurros de Deus, e eu sei que Deus percorreu o estúdio naquela noite, algumas vezes”.

O resultado final, completado por volta das 8:00 da manhã, foi um majestoso, infundado pelo evangelho, um minucioso hino que acompanhou os vocais de alguns dos maiores artistas do século XX.

O New York Times o elogiou como “mais do que uma colaboração comunal sem precedentes, entre a elite da música Pop, por uma causa – é um triunfo artístico que transcende sua natureza oficial”. [...]

“We Are The World” se tornou a canção mais vendida da década de 1980, com mais de 20 milhões de cópias vendidas em todo o mundo. Mais importante ainda, ajudou a gerar receitas de mais de US$ 60 milhões, que foram utilizadas para enviar mais de 120 toneladas de suprimentos para a Etiópia. Os fundos posteriores também foram utilizados para mais de 70 projetos de recuperação e desenvolvimento. [...]
___________________________

Texto completo no Blog Cartas Para Michael: