MICHAEL JACKSON
O HOMEM POR TRÁS DA MÁSCARA
(Parte 2)
Por Conceição Vitor
MICHAEL JACKSON: O Homem por trás da Máscara
PARTE II
A Religiosidade substituindo a religião:
"A religião do futuro será
cósmica e transcenderá um Deus pessoal, evitando os dogmas e a Teologia.
Abrangendo os terrenos material e espiritual, essa religião será baseada num
certo sentido religioso procedente da experiência de todas as Coisas, naturais e
espirituais, como uma unidade expressiva ou como a expressão da
Unidade." (São
palavras de Albert Einstein)
O
misticismo religioso subtrai da humanidade uma série de informações e
conhecimentos que os grandes Seres, missionários cósmicos, trazem aos mundos em
processo evolutivo de menor alcance.
Nenhum
dos grandes Mestres da Humanidade instituiu, em vida terrena, qualquer
religião. Eles trouxeram, sim, um código de conduta ética, uma filosofia de
vida e um modo-proceder que cada indivíduo, dada à sua condição evolutiva,
absorveu à sua maneira. Isso gerou uma diversidade de interpretações tal que o
mundo herdou uma gama considerável de seitas religiosas. Portanto, quem
instituiu as religiões foram os discípulos, e os discípulos dos discípulos;
nunca os Mestres.
Isto
prova que a Divindade não pretende que o homem siga uma regra padronizada,
seja um indivíduo manipulado por um código produzido pelo entendimento de
alguns. A Divindade pretende que o indivíduo intua, reflexione e formule o seu
próprio código de vida, embasado no seu entendimento do Conhecimento Universal.
Um
mundo evoluído não tem religião nem tem fronteiras; tem religiosidade, isto é, ligação
interna com o divino. É o mundo cantado por Lennon em "Imagine";
é o mundo cantado e, principalmente, vivenciado por Michael Jackson em pelo
menos 35 anos dessa sua existência terrena.
Grandes Seres não têm
religião, têm religiosidade. A religião limita, impõem conceitos e preceitos
definidos, dogmas irrefutáveis. A religião restringe e enlaça o voo do
Espírito, colocando limites ao imponderável.
A religiosidade liberta,
nada impõe, nada define, nada restringe, nada limita; dá asas ao Espírito para
que alce voos cada vez mais altos e trace o próprio caminho calçado em suas
próprias convicções, em suas próprias reflexões, em sua capacidade de
entendimento, na medida exata do seu rasgo de consciência.
Quando
Michael se desligou da religião materna - Testemunhas de Jeová -, seu Ser já
estava desperto e não cabia mais em concepções restritas e limítrofes. Vejam
essa assertiva transparecendo em suas considerações:
Quando
eu fiz o moonwalk pela primeira vez,
na festa Motown 25, eles disseram que eu estava fazendo uma dança burlesca e
que era 'suja'; e por meses eles disseram: “Nunca
mais dance daquele jeito de novo”. Eu respondi que 90% do ato de dançar é
mover a cintura. Eles responderam: “Não
queremos que você faça isso”. Então, eu tentei, por muito tempo, dançar sem
mexer essa parte do corpo. Quando eu fiz Thriller,
com todos os zumbis e fantasmas, eles disseram que era demoníaco e parte do
Oculto e que o irmão Jackson não podia fazer isso. Eu chamei meu advogado e,
chorando, eu disse: “Destrua o vídeo.
Destrua!” E por ele [o advogado] ter ido contra a minha vontade, as pessoas
têm Thriller hoje. Eles me fizeram
sentir tão mal que eu ordenei que minha equipe o destruísse”.
[...]
Eles discriminam, muitas vezes, do jeito errado. Eu não creio que Deus quisesse tal coisa.
Como o Halloween! Eu perdi anos de Halloween e agora eu faço. É legal ir de
porta em porta com as pessoas te dando doces. Precisamos mais disso no mundo.
Faz o mundo ficar unido.
Eu
acho que o mal vive no coração das pessoas. Eu não acredito que haja um diabo
por aí manipulando nossos pensamentos. [...] Eu pensava que o diabo era muito
mal. Ele está nesta sala e está por trás de todo o mal nesse mundo. O diabo é
muito ocupado. Eu acho que o diabo é o próprio homem.
Algumas
pessoas acreditam na teoria do Big Bang,
que eu não acredito, e outras acreditam na Criação, aquela história de Adão e
Eva, que esse universo não foi um acidente. Dizer que esse universo foi
originado pelo Big Bang ou por
acidente é dizer: “Ok, eu quero que
peguem um motor de carro, pois vamos tirar um pedaço e colocar numa banheira, e
então eu quero que comecem a chacoalhá-la”. Você pode chacoalhar essa
banheira por 100 anos que nunca irá se tornar o motor perfeito. Todas as peças
para se juntarem e formarem um motor, é assim que a teoria do Bing Bang diz, e então houve uma grande
explosão e agora temos crianças, árvores, plantas, o ar que respiramos, o
oxigênio! Alguém tinha que criar isso, um designer tinha que criar isso!
Eu tento falar sobre os
milagres da vida às crianças, olhar nos olhos delas; nossos corpos, como tudo
funciona perfeitamente, isso não acontece por conta própria. De jeito nenhum!
Então, eu pergunto por que estamos aqui e por que nos permitimos nos destruir?
Por que somos a única espécie que se destrói? Eu não entendo como tanta
injustiça acontece. (BOTEACH-2009)
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Michael encontrou a
religiosidade, o Deus imanente ao seu Ser, sem templos de pedra, sem limites
sócio-político-geográficos, sem regras pré-concebidas. Não o Deus que se revela
externamente, mas o Deus que se descobre em si mesmo... “eu não sou Jesus, mas tenho que agir como Ele em meu coração”.
Passou
por tantas e duras provações desde a infância, mas sempre se manteve brindando
a humanidade com seu sorriso magnífico, o olhar terno e a voz doce como uma
melodia, além de toda a magia nos palcos, o carinho com os fãs e a invariável
educação no trato com as pessoas. E, acima de tudo, manteve a fé e a confiança
na divindade, na vida e em si mesmo. Essa força espiritual, essa firmeza de
postura independente ao que a alma se exponha é a religiosidade intrínseca ao
Ser. Esse é o verdadeiro sentido de "dar a outra face", nas
palavras de Jesus. Mostrar dignidade é estar acima das misérias dos seus
algozes.
E
ele continua dizendo: “Eu creio que Deus existe, mas não acredito que Deus
julga. Eu não acredito que Ele está lá em cima dizendo: ‘você está certo, mas
eu vou aniquilar você’. Eu não penso assim.
[...] Você vê todos esses milagres feitos por Ele, mas você não O vê. Eu
O vejo através das crianças. [...] Te fazer procurar por Ele e encontrá-lo...
eu adoro isso! Ele é o essencial. Ele é... Ele é o Cara!” (BOTEACH – 2009)
Eu
sei que não sou um anjo e não sou um demônio também. Eu tento ser o melhor que
posso e eu tento fazer o que eu acho que é certo. É simples assim... Eu não
rezo apenas a noite. Eu rezo em diferentes horas, durante o dia. Quando eu vejo
algo bonito, eu digo: “oh, Deus, isso é lindo!” Eu rezo pequenas orações como
essa o dia todo. Para lidar com o estresse do mundo do show business eu me
volto para a divindade, não para as drogas. Por mais sentimental que possa
parecer, as alturas na natureza são as melhores alturas do mundo. As estrelas,
as montanhas, as crianças, bebês sorrindo são mágicos.
(JOHNSON – 1979)
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Nas
palavras de Kenny Ortega: "Você é um
Templo e eu sou seu devoto". Acho que isso expressa bem o sentimento
que Michael desperta nas pessoas do Bem. Por outro lado, desperta um ódio de
igual intensidade nas pessoas do Mal. O Bem sempre incomoda substancialmente os
ainda inconscientes da Verdade divina. Verdade e bondade que Michael representa
com inegável competência e clareza. A Luz sempre ofusca e faz doer os olhos
daqueles que pouco enxergam.
Anti-racista:
Nasceu
negro e foi ficando branco até colocar à vista que, independentemente da cor da
pele, a essência do homem é a mesma. Somos realmente iguais. O seu branco
incomum, ultra-sensível à luz solar, fez de seu guarda-sol quase que uma
extensão de si mesmo. E Michael o empunhava como se fora um escudo contra o
inimigo. Acostumava-se com os revezes e adaptava-se, sem queixas, às suas
limitações.
Mas,
por conta de uma doença silenciosa, Michael foi acusado de racista, de não
querer ser negro, de ter vergonha de sua origem. Quanta ignorância! Ou seria
maldade mesmo? Não importa. Ele sabe o grande homem que é.
Jackson,
desde os tenros anos de inocência, sofreu com o racismo tão arraigado no
coração da América.
Em
uma de suas poucas entrevistas, em 1979, Michael revela: “As pessoas
disseram a nós para lidar com isso, porque é como o Sul é. Isto é ignorância, e
é ensinada, porque não é realmente genética. [...] É por causa disso que eu
tento escrever, colocar nas minhas músicas, na minha dança, na minha arte - para
ensinar o mundo. Se políticos não podem fazê-lo, poetas o deveriam colocar na
poesia, e escritores o deveriam colocar em livros. É o que temos que fazer, e
eu acho que é tão importante salvar o mundo!”
Os
anos passam, as décadas se vão e o ser humano não consegue avançar na conquista
de seus valores. Conquista a ciência, domina o poder sobre os outros, mas não o
poder sobre si mesmo. Sai da ignorância intelectual, mas não consegue dar um
passo para sair da ignorância espiritual. É inacreditável como o Mal resiste e
como a inconsciência humana lhe dá forças. Não podemos combater aquilo que não
conseguimos ver. O grande véu da inconsciência ainda nos vela a visão das
grandes Verdades do Conhecimento Universal.
Michael
não. Michael sempre teve “olhos de ver e
ouvidos de ouvir”. Consciente, centrado, virtuoso e seguro de suas
convicções.
Ele
confidenciou com o rabilo Schmuley Boteach, em 2002: “Eu
não entendo o racismo. Minha mãe - e ela é um anjo, é uma santa – ela estava
saindo do supermercado e havia um bloqueio em minha casa em Encino; ela estava
no Mercedes dela. E um cara branco gritou: “Volte para a África, sua crioula!” Isso
me magoou muito e isso não foi mais do que cinco anos atrás. O cara tinha inveja. Eu sei de histórias
sobre meus irmãos em seus Rolls-Royces, quando saiam, trancavam os carros e
então, quando voltavam, eles haviam descoberto que um cara branco riscara os
carros com uma chave só por que era um negro quem dirigia. Eu odeio coisas assim, pois a cor da pele de
uma pessoa não tem nada a ver com o conteúdo de seu caráter. Eu amo os
bebês judeus, os bebês alemães, os asiáticos, os russos... Somos todos iguais e eu tenho a hipótese
perfeita para provar isso. Eu toco para todos esses países e eles choram em
todos os meus shows. Eles riem, ficam histéricos, desmaiam... Existe algo que
diz que todos somos os mesmos!”
Viajante
do entretenimento, Michael conheceu o mundo e as peculiaridades de suas
paragens, tirando de cada uma ensinamentos para a sua bagagem cultural e
espiritual. Reflexivo, ele revela que gostaria de tomar emprestado de outros
países, como os da América do Sul, “o
verdadeiro amor e pessoas que não veem a cor, e trazer isso para a América do
Norte (EUA)”. Na concepção de Michael, o norte-americano sofre uma
verdadeira lavagem cerebral social, com relação ao preconceito racial.
Dos
lugares que conheceu pela vida, Michael se ilumina quando fala da África:
“Eu
sempre pensei que os negros, em termos artísticos, eram a raça mais talentosa
na Terra. Mas quando eu fui à África, fiquei até mais convencido. [...] Eles
têm as batidas e o ritmo. Eu realmente vejo de onde a bateria vem. Faz você
pensar que todos os negros têm ritmo... Eu quero que os negros jamais se esqueçam
que este é o lugar do qual nós viemos e de onde nossa música veio”.
(Johnson
– 1979)
Um Homem de Negócios:
Ao
contrário do que a maioria pensa e do que a imprensa divulga, Michael é um
homem com visão comercial, um homem de negócios, e sabe detectar onde estão os
maiores investimentos. É bem verdade que tem, de quando em quando, conselheiros
capacitados e bem-intencionados (outras tantas vezes, um bando de
aproveitadores), mas o felling
final é sempre seu.
Corajoso
por natureza, ele sempre arriscou alto e, como um “visionário” – nas suas
próprias palavras – acertava em cheio. Chegava à frente nos negócios (como
em tudo na vida) e por isso angariou muita inveja e ganância à sua volta.
Prosperar é a sua palavra de ordem. Igualmente corajoso, não tem dó de gastar
com coisas que o fazem feliz e muito menos quando o assunto é ajuda humanitária:
doou milhões e milhões de dólares ao longo de sua vida.
Mas
o amigo David Gest revelou uma oura faceta de Jackson, que ninguém imaginaria:
ele era um tremendo pechincheiro. “Michael
discutia preços nas lojas. Se alguma coisa custava U$ 4.000, ele seria
insolente o bastante para oferecer U$ 200. Era um negociador astuto”.
A
maior e mais comentada propriedade de Jackson, a Neverland Valley Ranch (Rancho Vale da Terra do Nunca), no Vale
Santa Ynez, ao norte de Los Angeles, costa da Califórnia, era um sonho de 2,7
mil acres (10,93 km2) de terra, avaliado em 22 milhões de dólares. Esse
lugar mágico – que a maldade do mundo normal conseguiu macular – encravado
entre os carvalhos do Condado de Santa Bárbara, além da casa principal, em
estilo Tudor, compunha-se de um forte de dois andares, um parque de diversões
completo, um zoológico, um complexo de cinema e teatro, um grande lago, com seu
barco em forma de cisne e vários Jet-skis; piscinas, salas de jogos
eletrônicos, casa da árvore, salão de doces, quadras de esportes, cama
elástica, um trem a vapor que circundava toda a propriedade, uma vila indígena
com aldeia, estátuas de nativos e um mastro de totens; um jardim totalmente
florido e um exuberante bosque de carvalhos.
Assim
escreveu a articulista Daniele Soares, em seu artigo “O Espelho de Pan”, em
abril de 2002:
O
quarto do Rei tinha uma cama king size,
paredes com pôsteres de Peter Pan e vários espelhos, com vista para um
magnífico jardim escondido por uma muralha de pedra de dois metros de altura.
Uma passagem secreta levava ao Quarto do Tesouro, onde Michael guardava objetos
de valor material e pessoal. “Em
Neverland, Michael não tem que crescer, ninguém tem. Quando os enormes portões
de ferro da propriedade se abrem, o encanto segue junto” (SOARES – 2002).
Desiludido
com as calúnias de pedofilia, que transformaram o seu sonho de Neverland em um pesadelo horroroso,
Michael deixou a propriedade, em 2005, e não mais voltou. Ainda assim, seu
espólio é dono de 50% da propriedade. O injusto processo judicial de 2003-2005
marcou profundamente a alma de Michael e lhe trouxe considerável prejuízo
financeiro, pois, além de interromper sua carreira, ainda teve que desembolsar
fortunas para os honorários advocatícios. Michael nunca mais foi o mesmo, mas
seu patrimônio, apesar das dívidas, hoje já inexistentes, ainda assombra.
Além
de marcas, patentes, direitos autorais e imóveis, Michael é proprietário de
diversas companhias e sócio em outras. Em 26 de junho de 2009, Tim Arango e Ben
Sisario escreveram no jornal New York times:
A
vida de Jackson nos negócios e a sua vida pública eram uma massa de
contradições desconcertantes. Ao contrário de muitos artistas, ele era um
negociador afiado e investigador perspicaz – em 1985, ele fez um dos maiores
negócios na história da indústria musical, quando comprou os direitos de
publicação do catálogo dos Beatles por U$ 47,5 milhões de dólares. Hoje, isso é
parte de uma coleção de canções que vale mais de US$ 1 bilhão, e de propriedade
em parceria com a Sony.
Dívidas
ele as tinha, e muitas, como as tem todo homem de negócios, mesmo porque é
impossível prosperar sem riscos, sem sair da zona de conforto. Michael ousava
nos negócios como ousava na música e na maneira de viver. Simplesmente, um Ser
além do seu tempo.
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