Paradoxal
Por
Conceição Vitor
Maior
estrela do Planeta! E com fama de ser perfeccionista... nossa! A mente já
imagina uma avalanche de chiliques e não-me-toques. Exigências das mais
escabrosas e excêntricas. Ataques de nervos e estrelismo. Um mimado exigindo
coisas do tipo: me sirvam, me papariquem, me abanem, deitem-se no chão para me
servirem de tapete, quero 300 dúzias de flores silvestres que não existem no
seu país, ou quero 200 toalhas brancas por dia em meu camarim.
Mas
aí você vê entrar uma figura sem ostentação, sem passos largos e nariz para
cima; uma figura fina na forma e na essência, gentil, cortês, invariavelmente
educada...
Quanta
delicadeza em sempre pedir e não mandar...! Quanta generosidade em agradecer
cada gesto, cada atendimento às suas solicitações...! Quanta humildade em
abençoar cada elogio, cada referência à sua performance
ou à sua pessoa!
Esse
menino de sorriso meigo e sincero, sem soberba e sem arroubos de estrelismo é o
homem mais famoso do Planeta, respeitado e reverenciado por autoridades e
personalidades mundiais? Mas é. E por isso o é. Porque soube exercitar a
virtude da gratidão e da humildade, em cada momento da sua vida artística e
pessoal.
Michael
é sempre grande demais ou pequeno demais; nunca um lugar comum. É sempre amado
demais ou odiado demais, porém nunca indiferente. Tem a força interior de um
mestre e a fragilidade física de um passarinho.... O olhar traz força e
profundidade, mas traz também ternura.... O semblante carrega a autoridade, a
firmeza, a candura e a serenidade ao mesmo tempo.
Ele
consegue ser o guerreiro e o anjo simultaneamente, porque, em seu interno,
convivem em perfeita harmonia a natureza humana e a natureza espiritual, o
profano e o divino na dose perfeita.
Força e Fragilidade
Aparência
frágil como uma planta. Leve, delgado, passos sutis e quase inaudíveis. É
praticamente uma outra dança.... Mas ele corre... e como corre! Nas inocentes
palavras de seu caçula Blanket: “Não
aposte corrida com meu pai porque você vai perder”!... Porém, mesmo
correndo, Michael parece não ter peso. “Parecia
uma entidade tentando caminhar na Terra”, observa um jornalista que fez a
cobertura de Michael quando a World
Dangerous Tour passou por São Paulo.
Mas
o Michael que vemos no palco é um homem forte, basta denotar o seu fantástico
condicionamento físico. São duas horas de dança, saltos, flexões e contorções
que parecem não o fatigar. Pequenos exercícios de respiração reconstituem, em
alguns segundos, as energias físicas do astro. E ele está pronto para mais uma performance de arrancar o público do
chão e do juízo.
Jackson
tem, também, considerável força nos braços e pernas. Nas suas próprias
palavras, ele é capaz de levantar um adulto sem esforço.
No
entanto, se o corpo é frágil, a alma é robusta. A postura interna do delgado
Jackson inibe tal qual a robustez de um titã.... Ele tem identidade, ele tem
autoridade e diante dele, ou na presença dele, tudo e todos em volta se
apequenam. Grandes empresários, autoridades, políticos, celebridades... quantos
deles se curvaram à força interna de Jackson, rendendo-lhe respeito e
admiração: Jimmy Carter, Ronald Regan, Jackeline Kennedy, Nelson Mandela,
centenas de artistas de diversas nacionalidades....
Um
homem forte! Um frágil homem forte! “Michael
é uma brandura, mas muito forte de um jeito. Ele tem pele grossa”. Quem diz
é Katherine Jackson.... “Eu não deixo
nada me derrubar, não importa o quê”, afirma ele próprio. E quando o mundo
pensa que o venceu, ele ressurge mais forte, mais experiente, mais confiante: Invencible, Unbreakable!
E
esta “morte” pode não ter sido, ainda, a cortina final, porque nela Michael se
imortalizou. Ficou encantado entre o mundo físico e o astral.
Humildade e Prosperidade
Comumente,
humildade e prosperidade dariam a ideia de absoluta incompatibilidade,
antagonismo até, mas a verdadeira prosperidade é fruto do trabalho e da
humildade. Michael sabiamente conjugou as duas coisas na medida exata do
estrondoso sucesso que alcançou. Quanto mais próspero, mais humilde e mais
solidário ele ficava.
A
frase bíblica atribuída a Jesus de que “seria
mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no
reino dos céus” é a expressão da dificuldade que o ser humano tem de lidar
com os egos. A fortuna, a posse, o ter exacerba a soberba e afasta a humildade.
É preciso ser muito forte para manter-se humilde e solidário dentro da riqueza....
Jackson foi capaz. A consciência de que toda a sua genialidade é um dom divino
e não um atributo pessoal o ajudou a se manter no prumo, a não deixar o sucesso
subir à cabeça e a jamais perder o senso de gratidão, embora bilionário.
Black or White
Quando,
na década de 80, recebeu o diagnóstico de vitiligo, Michael não perdeu somente
a melanina do seu organismo; perdeu principalmente o sossego. Os juízes da
imprensa sensacionalista e da imprensa em geral se encheram de razão e
decretaram a sentença: Michael é racista e está descolorindo a pele porque não
quer ser negro. Mas essa é a ótica da maldade humana e não a realidade.
O
vitiligo é uma enfermidade degenerativa em que ocorre a perda da melanina,
pigmento responsável pela coloração da pele e, por vezes, até dos pelos, porque
os melanócitos - células produtoras da melanina - são destruídos.
A
causa que leva o organismo a agir autodestrutivamente é desconhecida, mas os
fatores que desencadeiam esse comportamento podem ser herança genética,
disfunção do sistema imunológico, como o lúpus; stress psicológico ou
pós-trauma de queimadura solar grave.
Portanto,
motivos não faltaram a Michael para adquirir a síndrome, pois tem herança
genética na família paterna, viveu sob pressão e estresse psicológico desde a
infância, sofreu acidente com queimaduras de 2º e 3º graus no cérebro, quando
gravava um comercial para a PEPSI, e desenvolveu o lúpus discoide. Ninguém até
hoje sabe como Michael saiu sem sequelas do acidente pirotécnico da PEPSI, com
sérias e profundas queimaduras no cérebro. O vitiligo pode ter sido
desencadeado aí, pois os sintomas apareceram no início da Era Thriller.
A
princípio, ele tentou disfarçar até mesmo da sua maquiadora Karen Faye e se
enchia de maquiagem escura para camuflar as manchas. Porém, a doença avançou
rapidamente e Michael não teve mais como esconder. Com mais de 60% do corpo
tomado pelas manchas super brancas, o tratamento adequado foi clarear o
restante da pele e ser injustamente acusado de racista. A dor o inspirou a
escrever a lendária “Black or White”,
afinal, o que importa a cor da pele? Por baixo dela somos todos iguais. Além do
que, nosso caráter e nossos valores não têm cor.
Uma
luta psicológica: foi isso que Jackson travou ao ser diagnosticado o vitiligo
e, junto com ele - ou por causa dele -, o lúpus discoide. O vitiligo em pele
branca já é desconfortável; o vitiligo na pele negra é traumatizante. E Michael
é um homem público, é um homem do show
business, onde a imagem física é o cartão de visitas. “Eu não quero ficar parecendo uma vaca malhada” disse ele à mãe. O
que ele teve que enfrentar internamente só ele pode dizer, mas não diz. Ele é
discreto e é forte: enfrenta sozinho.
O
paciente de vitiligo não deve expor a pele branca ao sol, pois a ausência do
pigmento produz queimaduras e aumenta a predisposição ao câncer de pele.
Portanto, o famoso e inseparável guarda-chuva de Michael não é frescura, é
cuidado. Mas que é um charme ver o Mestre com seu cajado... ah, isso é!
Lúpus
é uma enfermidade inflamatória crônica, autoimune e recorrente de causas
desconhecidas. Vários são os vilões suspeitos, mas nenhuma é a certeza: vírus,
bactérias, agentes químicos, radiação ultravioleta, estresse psicológico, etc.;
atacam o sistema imunológico do paciente e ativa a produção inadequada de
anticorpos. Trata-se de uma doença causadora de inflamações em várias partes do
corpo, principalmente na pele, nas juntas, nos rins e no sangue.
Há
três tipos de lúpus: lúpus discoide, lúpus sistêmico e lúpus induzido por
drogas. Mas vamos nos ater ao lúpus eritematoso discoide (cutâneo) por ser esse o diagnóstico de
Jackson, por seu dermatologista, Dr. Arnold Klein, na década de 80.... Esse
tipo de lúpus pode afetar, em especial, a pele e o couro cabeludo.
Cerca
de 10% dos pacientes do tipo discoide acabam por desenvolver o lúpus eritematoso
sistêmico (LES), considerado o mais grave porque pode atingir vários tecidos e
órgãos do corpo. Os sintomas predominantes do discoide são erupções cutâneas no
rosto, couro cabeludo, orelhas, parte superior do tronco, dorso dos braços,
etc, como pequenas moedas vermelhas. O paciente apresenta fotossensibilidade e,
durante a crise, pode sentir dores nas articulações.
Fácil
perceber os agentes desencadeadores do lúpus em Michael, não? Vitiligo,
estresse psicológico provocado pela pressão do pai, da mídia e de seu próprio
perfeccionismo e a grande quantidade de analgésicos que ingeriu após o acidente
com fogos de artifício, porque as dores eram insuportáveis.
Perceptíveis
também eram os sintomas da doença na insônia, nas perdas de peso sem motivo
aparente, nas constantes dores musculares, na redução de apetite, nas
articulações das mãos de Jackson que, muitas vezes, apresentavam inchaço e
vermelhidão, ou pequenas feridas no dorso da mão, no braço e na cabeça.... Eram
as crises do lúpus.
Em
muitas ocasiões, Michael era visto saindo do dermatologista com uma touca de
banho na cabeça. Eram as dolorosas aplicações de corticoide – único medicamento
com alguma eficácia sobre o lúpus -, e pomadas no couro cabeludo, que era
protegido pela touca. E os críticos de plantão julgavam e ridicularizavam: “lá vai o louco de touca de banho no meio
da rua”. E ele saía da clínica meio grogue mesmo, porque o corticoide
(corticosteroide) é quase uma quimioterapia, portanto, dói, dá mal-estar e
provoca tonturas.
Aquelas
feridinhas, que ora apareciam, ora sumiam dos braços e mãos de Michael, não
eram câncer de pele não, ilustres tabloides; eram crises recorrentes de lúpus.
Aquela pele que era negra e foi ficando branca e aquele monte de frascos de
pomada para clareamento não foram por racismo; foram para tornar a doença menos
chocante ao olhar das pessoas.
Black or White,
negro ou branco, não importa; o que importa é a essência de uma pessoa.
Paradoxo do Belo
Michael
tinha obsessão pelo Belo. Amava a bela arte e seus grandes mestres. Amava a
beleza interior, mas, paradoxalmente, amava também o belo exterior, o estético.
Isso parece contradizer o que revela no livro “Michael Jackson Tapes”: “todas
as pessoas são belas por dentro x a velhice é feia x eu
pareço um lagarto e me sinto enjoado de me ver. Não quero que as pessoas me
vejam”. Por isso, as máscaras e os óculos? Mistério ou desconforto em se
mostrar da forma que se via?
Michael
foi condicionado por Joe Jackson a se ver feio-com-nariz-enorme, e
tentava se reesculpir sempre para ser aceito e amado pelo pai. Isso
perdurou machucando-o psicologicamente por toda a sua existência,
transformando seu rosto. Sua obsessão: o nariz.
Analisando
fotos desde sua mais tenra adolescência, pude concluir que ele realmente só
mexeu no nariz e fez um furinho no queixo, como ele mesmo admite. Vemos que,
desde o início, Michael tem o formato quadrado do rosto e as mandíbulas
salientes.... Com a idade, a retração e a flacidez dos músculos faciais
são inevitáveis. Isso fez "parecer" que a mandíbula estava mais
larga, o queixo mais proeminente e o consequente aprofundamento do furo
frontal. Não foram plásticas. Usando as palavras de Michael, essas
transformações se chamam: infância, adolescência, juventude,
madureza e... ele não gostaria de experimentar a velhice que destrói o
Ser.
Entretanto,
se o que conta para Michael é a beleza interior dos seres, porque as rugas e as
limitações senis o incomodam tanto - apavoram até?
“Eu
só não quero ficar velho e começar a esquecer. Quando eles (idosos) começam a
esquecer e a enrugar, e seus corpos começam a deteriorar, isso me machuca.
[...] Veja o Fred (Astaire) .... Eu não sabia que alguém podia se mover tão
belamente, sabe? E quando eu o vi chegar a um ponto.... Um dia ele disse para
mim: “Sabe, Michael? Se eu der um giro
agora, eu cairia de cara. Meu equilíbrio se foi totalmente”. E quando ele
atendeu a porta de casa, um dia em que fui visitá-lo, era assim que ele
andava... pequenos passinhos... isso me partiu o coração, me machucou e, no dia
em que ele morreu, aquilo me matou, me destruiu”. (BOTEACH-2009)
Sexualidade e Sublimação
Assunto
difícil de abordar em época atual, quando o sexo está tão banalizado e tão
tergiversado que perdeu totalmente o sentido, a essência. Os grandes sábios da
Humanidade, as grandes culturas milenares conheciam e praticavam o sexo na sua
forma mais sublime, mais valorosa, mais significativa, como agente
impulsionador de sabedoria e de evolução.
A
mesma energia que alimenta a atividade sexual alimenta igualmente a atividade
de criação, em especial a atividade artística: a Libido. Grande parte da
capacidade sexual de artistas é consumida na arte, mas, hoje em dia, o apelo
sexual é tão forte e tão ostensivo que o indivíduo se entrega, apesar de já
saciado sexualmente pela atividade de criação. E se entrega porque virou
obrigação - se não quiser ser chamado de homossexual -, que o indivíduo faça sexo
sempre que solicitado, sempre que estimulado ou provocado.
Michael
faz sexo o tempo todo: enquanto cria, enquanto performa, enquanto faz filhos....
É sexo superior, é sexo alquímico. É sexo que não desperdiça a energia criadora
“pegando mulheres” por aí, sem o menor sentido e proveito para a sua essência
espiritual. A sua sensualidade explosiva no palco é um ato sexual, é um orgasmo
alquímico que jorra o sêmen para dentro e para cima; não para baixo e para fora
como a maioria esmagadora de todos nós. É um orgasmo que vai para a coluna e o
cérebro, para a consciência, para a essência e ele se torna cada vez mais
genial.
O
homem terráqueo da atualidade joga fora a própria vida na promiscuidade (Sêmen = fonte de vida), na sexualidade
sem afeto, e perde a vitalidade, a capacidade mental, intelectual, emocional,
intuitiva, física, essencial. Ele adoece cedo, ele morre cedo.... Corpo e mente
se deterioram com facilidade e a decrepitude física e mental ganha terreno até
perecer... e perecer muito cedo. O mesmo se aplica às mulheres.
Nas
civilizações antigas, quando a Humanidade ainda detinha o Conhecimento, a
Sabedoria, o líquido da vida era valorizado e preservado. Os egípcios primordiais
chegavam a viver 300 a 400 anos em pleno vigor fértil, saúde física e mental. E
hoje?
Michael
não é assexuado e muito menos homossexual. Também não é um santo. É apenas – eu
digo e repito - um sábio.
A Conexão Rei do Pop e
Michael Joe Jackson
Michael
Joseph Jackson, o astro mundial, a imagem; e Michael Joe Jackson, o homem, o
ser, a essência. Até no nome eles são diferentes: um nome artístico, um nome
civil. Mas as diferenças não se encerram na grafia do nome, apenas começam.
Na
casa do Rei do Pop não se ouve pop,
ou rock, ou soul. Na sua casa se ouve Mozart, Debussy e não Thriller. Aquela voz pequena, quase um
sussurro, que se ouve em público não é a mesma voz firme e em tom perfeitamente
audível da intimidade. Muito menos se mantém na convivência familiar e com
amigos a risadinha apertada e tímida que não passa de um “hihihihihi”; Michael
sabe gargalhar como ninguém.
Quando do depoimento de Debbie Rowe, no processo
contra Jackson, em 2005, ela chorou ao dizer que "há dois Michael's
diferentes: há o meu Michael e o Michael que todos os outros veem".
Mas
ele não é um homem de duas personalidades, e sim um homem de identidade, de
autenticidade. É tudo uma questão de postura, de saber identificar momento e
lugar em que as coisas têm que ser de um jeito ou de outro. Tímido, em público
ele se mostra retraído e diminuto, porém firme. Na intimidade, mais seguro e
sem julgamento, ele se agiganta e se mostra maior.
Com
os filhos, o meigo e doce Michael sabe dosar carinho e autoridade, complacência
e exigência. Sim é sim, não é não; e a capacidade de identificar quando pode
ser o “sim” e quando deve ser o “não”.
É
a grande sabedoria de aproximar os extremos, ou centralizar os extremos até que
não se identifique um e outro. É a difícil e ambicionada sabedoria do “caminho
do meio” tão decantada pelos grandes pensadores e sábios.
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Fonte:
- Livro "Simplesmente Michael - Mistérios e Enigmas de uma Lenda Viva" (Autora: Conceição Vitor; Editora Baraúna; Págs. 301-310)
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